quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sodimac aposta em loja de 'baixo custo'


Dois anos após adquirir o controle da Dicico, e num momento de vendas fracas no setor, a chilena Sodimac anuncia a entrada da sua marca no país. A primeira loja local da bandeira Sodimac, em Barueri (SP), foi aberta neste mês e adota o conceito batizado de "preço baixo todo dia".

É a primeira rede de material de construção, reforma e decoração com esse modelo no país. Na área de varejo alimentar, apenas o Walmart usa o sistema, considerado um desafio por analistas.

Pelo plano inicial, mais uma unidade da marca chilena deve ser aberta neste ano, em Ribeirão Preto (SP). Pelo menos mais duas lojas serão abertas em 2016 (podendo chegar a três), na Marginal Pinheiros, na cidade de São Paulo, e em São José dos Campos (SP), com terrenos já negociados. Planos de aberturas da Dicico (uma a duas lojas ao ano) estão sendo mantidos em paralelo à marca Sodimac.

A primeira unidade aberta neste mês, com 11,5 mil metros de área construída, recebeu investimentos entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões (sem incluir terreno), apurou o Valor. No total, R$ 100 milhões foram aplicados inicialmente no projeto.

Nestes R$ 100 milhões estão incluídos investimentos em mudanças de sistemas de tecnologia, área logística (ampliação de centros de distribuição) e campanhas de marketing. Os recursos saíram do primeiro aporte dos chilenos no país. Em 2013, a Falabella, dona da Sodimac, colocou R$ 388 milhões no negócio e R$ 69 milhões foram para sócios minoritários que deixaram a Dicico. Os chilenos ficaram com 50,1% da Construdecor, que controla a Dicico. Os R$ 319 milhões restantes foram para aumento de capital e expansão.

A Falabella é a segunda maior varejista do Chile, com US$ 11,5 bilhões em receita e 440 lojas no Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Chile ­ a primeira é a Cencosud. O Brasil, com 57 lojas da Dicico, representa 3% das vendas totais. Os investimentos em novas lojas faz parte dos investimentos globais de US$ 4,3 bilhões até 2018.

No Brasil, a ordem é reduzir custos fixos para que o formato "preço baixo todo dia" consiga funcionar. "É algo que só dá certo se levar o 'low cost' a sério. Se não tivermos custos muito baixos, não se sustentará a ideia de ter, de forma permanente, preços competitivos", diz Francisco Cerda, diretorgeral da Sodimac no Brasil.

O modelo de "preço baixo todo dia" não permite promoções, tática central das redes Casa & Construção, Leroy Merlin e Telhanorte. A Sodimac abriu negociações com a indústria nos últimos dois anos para apresentar o conceito. "A maioria [dos fornecedores] já entrou [no novo formato]. Não foi fácil quebrar a inércia do modelo anterior", diz Dimitrios Markakis, presidente da Construdecor, que reúne Dicico e Sodimac.

Na nova loja, as gôndolas têm seis metros de altura, o dobro da média, e todo o estoque de produtos da loja fica na parte superior e inferior das prateleiras. As caixas estocadas ocupam até três gôndolas e chegam à altura dos olhos, para tentar facilitar a retirada. A ideia é que o consumidor leve o que comprar, e com isso, a loja economiza em entregas. O chão da loja é de cimento cinza, porque permite que não se lave com tanta frequência. "Se fosse branco, gastaríamos mais água", diz Markakis. Na área de retirada dos produtos, parte do telhado é transparente, para economizar energia.

O projeto com a Sodimac no país corre em paralelo a ajustes que estão sendo feitos na Dicico, operação que não cresce e tem problemas de rentabilidade. Com a entrada da Sodimac, a Dicico deve focar a atuação na área de acabamento (tintas, pisos, chuveiros).

O grupo registra queda de vendas em 2014 e no início de 2015, quando a margem operacional foi negativa em 4,9%. "Existe aí um efeito do aumento de despesas operacionais, como reflexo dos maiores desembolsos no projeto no Brasil", diz Markakis. Neste ano, a estratégia foi manter preços na Dicico, mas isso vai mudar. "Decidimos mudar essa estratégia nos próximos meses, com alguma revisão em preços para aumentar volume".

Fonte: Valor