segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Temos que falar sobre depressão. Muito.

Eu sofro de depressão.

Sim, mesmo eu, o cara que parece estar sempre de bom humor e fazendo palhaçada (quem me conhece pessoalmente sabe do que estou falando), sofro de depressão.

2017 está sendo o melhor ano da minha vida. E mesmo com livro lançado e vendendo bem, tendo a alegria de estar entre os primeiros mais vendidos sobre o varejo; o nascimento da minha segunda filha, que se soma à um filhão incrível e uma esposa que não tenho palavras para descrever o amor, amizade e apoio; uma carreira estável, mesmo em um momento de crise como esse, também realizando todas as palestras que eu quis (até fazendo minha primeira palestra no exterior!) e tudo mais que de bom me aconteceu nesse ano, descobri há cerca de uns seis meses atrás um inimigo maior do que eu poderia enfrentar sozinho, e foi só com a ajuda da medicina, e de amigos e parentes próximos que estou conseguindo aos poucos derrotá-lo. Descobri até que ele era um inimigo que me assombrava a mais tempo que eu imaginava!


Infelizmente, o motivo que me fez escrever esse texto não é sobre uma vitória, mas sobre algumas derrotas. Algumas derrotas que eu venho lendo nos últimos tempos, de pessoas que acabam sendo vencidas e interrompendo suas vidas por conta dessas, e que infelizmente, nesse final de novembro, acabou derrotando um amigo, um gênio para todos que o conheceram. Ninguém imaginava que ele passava por isso. Amado, querido, invejado, exaltado, o monstro o fez pensar que estava sozinho, e na solidão de seu eu, colocou um fim em sua história entre nós.

Esse fato de perder alguém em um círculo próximo me fez pensar em escrever esse texto, mas que não é sobre essa derrota em particular, ou para tentar entender os motivos dessa, mas para tentar ajudar a todos que de alguma maneira ainda não entenderam a gravidade e o quão forte esse inimigo que ataca de maneira sorrateira e invisível pode de verdade ser.

Comecei esse texto assumindo esse meu momento para você, para que também o alerte sobre o que pode estar acontecendo contigo.

Vivemos dias difíceis. Essa nossa vida cada vez mais atribulada, em meio à essa gigantesca crise, pode ser que você esteja desempregado ou desesperado com a manutenção e situação de seu emprego, se sentindo sem forças, mas ainda não se tocou que estar sendo acometido de um mal que assola cada vez mais milhões e milhões de pessoas. E mata muitas delas.

Em primeiro lugar: Não esconda o que está se sentido. Fale com as pessoas, e principalmente procure ajuda médica.

Sim, ajuda médica. Esses são os primeiros que poderão avaliar corretamente se está ou não com depressão, como trata-la, e derrotar.

De todas as maneiras, não pense que poderá derrotá-lo sozinho. A depressão não se trata somente de uma “tristeza” maior. Não é só sobre estar triste, é um processo químico. Não tenha medo de procurar um psiquiatra. Não é um “médico de loucos” como muita gente pensa e fala. É o profissional mais certo para uma primeira avaliação, na minha humilde opinião.

No meu caso, mais do que tristeza, sofri de uma completa pane mental e física. Um esgotamento total, sem a mínima vontade de sair da cama, sem motivação para nada. E foi assim por três semanas. Descobri que a depressão já havia me “visitado” em outras situações, de maneiras mais amenas, até culminar no ponto em que me encontrei definitivamente com ela. Eu a conhecia há anos, sem saber quem ela era. E além do esgotamento, também havia tristeza, mas tudo estava sempre camuflado pela capa do “stress” cotidiano.

Mas stress é algo que todo mundo sofre nos dias de hoje, certo? Certo, mas em maiores intensidades levam à uma infinidade de males, entre eles a depressão, ou até mesmo em casos mais graves, um derrame ou ataque cardíaco. Cuide de você, busque o equilíbrio.

Parece que nos dias de hoje quem não está estressado trabalhando, está trabalhando pouco. Não é porque todo mundo tem stress à sua volta, que você deve administrá-lo e aceita-lo da mesma forma que todo mundo faz. Uma velha frase diz: Não é porque todo mundo faz o errado que o errado se torna o certo. Nesse caso, essa frase é mais do que válida.

Foi só quando coloquei na balança tudo o que estava sentido, contra tudo o que havia ganho e conquistado nesse ano que percebi que estava fora do meu normal, acima da minha capacidade de combater o que sentia.

Pensando na depressão como um inimigo, o pior que pode fazer é subjugá-lo, não compreendendo sua força. Seja humilde. Aceite que é ele é mais forte do que você. Aceite ajuda.

Use todas as armas que puder para derrotá-lo. A medicina e a amizade de seu círculo próximo são duas grandes armas e eficazes armas.

Não sinta vergonha por se sentir assim, por estar nesse momento. Não tenha vergonha ou raiva se as pessoas sentirem pena de você num primeiro momento. Muita gente não sabe como lidar com isso num primeiro momento. A amizade, o carinho e a compreensão de seus amigos e familiares são consequências positivas que você obterá depois.

A depressão não escolhe etnia, classe social, ou até mesmo fracasso ou sucesso profissional. Pode estar atacando qualquer um, até mesmo aqueles que você nunca acreditaria que pudessem estar passando por esse mal.

Se apegar a questões como religião, ou algum hobbie como música ou pintura, além de tentar algum período “sabático”, podem ser bons atenuantes, mas que devem sempre ser acompanhados de um bom médico. Mais uma vez, não confie em somente você para derrotar este inimigo. Frases motivacionais ou de autoajuda também parecem lindas, mas na prática, ajuda e assistência profissional é que acabam sendo as ferramentas mais eficazes.

Enfrente esse monstro de frente.
Procurar ajuda pode salvar vidas. Pode salvar a sua.
Se conhece alguém que possa estar passando por isso, não hesite em conversar, em ajuda-lo, em mostrar disposição para ajudar.

Qualquer coisa, estou aqui para te ajudar também.

Um grande abraço,
Caio Camargo

Texto em homenagem ao amigo João
(peço desculpas por não escrever sobre varejo dessa vez)