quarta-feira, 23 de maio de 2018

Decidir é preciso

Acordar de manhã, ir ao banheiro, lavar o rosto e depois tomar o café da manhã. Café com leite ou chá? Torrada com geleia ou manteiga? Uma laranja ou uma mexerica. Sair de casa. Vou de carro ou melhor hoje chamar um Uber? Chegando no escritório. Melhor antes preparar a reunião da tarde ou responder a alguns e-mails? Na hora do almoço. Passo no restaurante vegano ou vou para o quilo.


Ligo para aquele cliente para checar a proposta ou melhor esperar até amanhã? No final de semana vou ao cabeleireiro, mudo a tonalidade do cabelo ou não? Estas perguntas referem-se apenas a temas básicos com os quais lidamos cotidianamente, mas que exigem de nós sempre uma ação: tomar uma decisão. Imagine quando ampliamos isto para temas mais complexos, tais como: aceito ou não o novo emprego? É hora de tentar um filho? Será que este carro chinês vale mesmo a pena? Mudo para Alphaville ou fico em Pinheiros? Caso ou compro uma bicicleta?

Assim como nós, as empresas vivem um dia a dia repleto de tomadas de decisões que vão desde a decisão do preço a ser colocado em uma cotação ou proposta até a construção de uma nova unidade fabril, abertura de filial em outro estado ou mesmo o planejamento de um novo Centro de Distribuição de produtos.

Todas as decisões, pessoais ou empresariais implicam em riscos e em consequências, que vão desde a necessidade de uma casa maior quando se espera por um filho, até o comprometimento financeiro quando se decide por um empréstimo para a renovação da frota da empresa. Como pessoas ou como gestores de empresas, nossa missão fundamental quando confrontados com decisões é mitigar riscos de forma a preservar todos os recursos envolvidos.

No mundo dos negócios a Inteligência de Mercado, com seus métodos e processos aparece como componente fundamental para que os gestores possam tomar decisões com maior segurança e, consequentemente, com menores riscos. A Inteligência de Mercado pode ser definida de diversas maneiras e segundo a visão de inúmeros autores espalhados pelo mundo. A nossa visão do tema nos leva a defini-la como sendo o processo contínuo que se taduz pela coleta, assimilação e a análise de informações do mercado e da concorrência utilizadas para gerar insights e decifrar tendências.
O papel fundamental da Inteligência de Mercado é se alimentar de dados, de inúmeros formatos, coletados em diversas fontes internas e externas ao ambiente corporativo e produzir informação relevante que será então incorporada a este processo citado acima.

Por trás desta coleta e análise de informação existe o caráter de antecipação, razão pela qual o objetivo principal da inteligência é a geração de insights e de tendências, permitindo ao gestor agir mais rapidamente do que sua concorrência e assim buscar os horizontes definidos pela empresa. Se por um lado de nada adianta utilizar informação irrelevante para decidir, por outro, pouca importância tem chegar-se a uma conclusão que o mercado já conhece.

Os melhores gestores, aqueles que se utilizam da Inteligência de Mercado para apoiar suas decisões, sabem também coordenar estes processos de forma a equilibrá-los. Em uma das mãos a produção de informação adequada e que realmente minimiza riscos no processo decisório e na outra os resultados que apontam para elementos desconhecidos e inovadores, sem os quais não será possível construir vantagens competitivas frente à concorrência, gerando aquilo que realmente é importante, ou sejam, resultados positivos na última linha.

Este é um dos motivos que embasam a afirmação de que processos realmente efetivos de inteligência só serão possíveis se contarem com o patrocínio da mais alta cúpula da empresa, seja esta formada nas grandes empresas pelo CEO e sua diretoria, seja formada pelo proprietário de uma empresa de médio ou pequeno porte e que também precisa das mesmas garantias para decidir.

A profusão de informação no ambiente de negócios hoje em dia exige que as decisões sejam embasadas da forma mais consistente o que obriga que, em maior ou menor grau processos de Inteligência de Mercado sejam incorporados ao dia a dia empresarial. Foi-se o tempo em que decidir significava experiência apenas. Hoje ela é fundamental, mas sem informação relevante ela pode se tornar quase inócua. Vale a pena ressaltar que quando se fala em dados e informação não estamos apenas falando dos termos que estão na moda como Big Data e Analytics que, em geral, implicam em investimentos significativos. Falamos principalmente de planilhas, de pesquisas qualitativas de mercado, de dados secundários, de dados censitários, etc. que são muito mais acessíveis e resolvem boa parte dos problemas de quem quer se iniciar no manejo da informação para a tomada de decisão.

Um último ponto a considerar é que implantar o apoio da informação para a tomada de decisão implica em dois fatores: agilidade e mudança de cultura organizacional. Agilidade por que as mudanças no mercado são tão violentamente rápidas que tudo pode alterar-se radicalmente em questão de dias e mudança de cultura organizacional por que sem ela a organização não se livra de comportamentos paradigmáticos, normalmente presentes dentro das empresas.

Se a vida pessoal e empresarial é uma sucessão de decisões e para isto é preciso acumular informação de apoio, mãos à obra. Viabilizar o caminho para isto é fundamental e precisa ser rápido, caso contrário, decidir pra quê?

Luiz Goes é especialista em Inteligência de Mercado e autor do livro Inteligência de Mercado – O Poder da Informação. Editora Letramento.