segunda-feira, 30 de março de 2009

Notícias: Redes varejistas mudam o foco para manter o lucro

Publicado por UAI
por Zulmira Furbino

Serviços financeiros como seguros de todo tipo, além de empréstimos pessoais, transformaram-se na galinha dos ovos de ouro das grandes redes varejistas de móveis e eletrodomésticos do país. Eles já garantem aproximadamente entre 70% e 80% do lucro do negócio e, em alguns casos, chegam a 100%. A maior parte das redes evita falar do assunto e quem topa dar entrevista não quer nem saber de revelar quanto está faturando com a intermediação financeira.Um especialista em varejo consultado pelo Estado de Minas, que preferiu não se identificar, afirma que o fenômeno, iniciado há cerca de quatro anos, está cada vez mais forte.

Dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) mostram que as vendas de seguros prestamistas no Brasil saltaram de R$ 511 milhões em 2004 para R$ 2,3 bilhões em 2008, um avanço de 450%. Os principais pilares da fonte de receita que vem sustentando o resultado positivo das redes de magazines de móveis e eletrodomésticos no Brasil são o crescimento da demanda por proteção – seguro prestamista garante o pagamento de parcelas dos bens comprados a prazo em caso de desemprego – e o estímulo ao consumo, por meio da oferta garantida de crédito. “O seguro está se tornando uma fonte de receita para os varejistas e uma segurança para o cliente. De outubro para cá, as vendas do serviço cresceram entre 30% e 40%”, calcula José Eduardo Fadul, sócio-diretor da FFC Serviços Financeiros.

Na Ricardo Eletro, esses serviços já respondem por 8% do faturamento e o percentual sobre o lucro “é significativo”, diz Samuel Belo, diretor de serviços da rede mineira. Em junho de 2008, a Ricardo Eletro apostou na ampliação e na diversificação do segmento. “Com a entrada de dois seguros, o prestamista e o por morte e invalidez, aplicados às vendas em carnês e no cartão de crédito, aliada à cobertura contra acidentes pessoais e à de perda de renda, voltada para consumidores que atuam como trabalhadores informais, as vendas cresceram 12%”, informa Belo. Segundo ele, o campeão é mesmo o seguro prestamista, que já acompanha 70% do volume de vendas financiadas da Ricardo Eletro. No caso da garantia estendida, as vendas estão 25% superiores às previsões feitas em 2008. O serviço tem forte apelo para consumidores que estão adquirindo equipamentos de alta tecnologia como TVs de LCD e de plasma. “O cliente tem medo de ficar desprotegido”, observa o diretor.

Para Élcio Gomes, superintendente de negócios do Pontocred, joint venture formada entre o Ponto Frio e o Unibanco para oferta de financiamento, o seguro prestamista foi identificado pela rede como uma “oportunidade” no final do ano passado. Em dezembro, a empresa passou a oferecer o serviço como alternativa para proteger os consumidores que fazem compras com o cartão de crédito, que hoje representam 25% de todas as operações a prazo da rede. Lançado sem qualquer divulgação, no primeiro mês 8% das vendas financiadas já eram acompanhadas dele. “Se o cliente está indeciso, o vendedor oferece o seguro”, explica. A divulgação começou em janeiro e, no mês seguinte, o número saltou para 40% das vendas a prazo. “Adquirindo o seguro, as pessoas se resguardam da compra financiada. Os clientes não estão dispostos a se endividar. Se não têm o dinheiro para comprar à vista, adiam ou procuram uma proteção que dê garantia de pagamento”, analisa.

“A onda de serviços financeiros oferecidos pelo varejo é uma realidade e tende a crescer, sem sombra de dúvidas”, sustenta Ubirajara Pasquoto, presidente da Cybelar, rede que tem 65 revendedoras de móveis e eletrodomésticos no interior de São Paulo. Segundo ele, a cada duas vendas parceladas realizadas na Cybelar, uma é acompanhada da aquisição de um seguro prestamista.

“Os serviços financeiros alavancam o resultado dos grandes varejistas porque funcionam como um agregador de receita. Quando um cliente compra um seguro desse tipo, não há risco de se tornar inadimplente. Só o fato de evitar perdas já é uma fonte de lucro”, explica Pasquoto,que começou a oferecer o seguro prestamista há um ano e meio e desde 1999 trabalha com o seguro complementar, que prolonga a garantia dos produtos.