por Adriana Mattos

Oito entre cada dez brasileiros têm ótima relação com a loja onde compram. A taxa supera a média mundial e reflete a alta aceitação no País do modelo de varejo atual
Tamanha aceitação pode ser explicada pelo fato de o Brasil, com um varejo que movimenta R$ 200 bilhões ao ano, ter aberto a sua economia recentemente. Ainda há uma demanda reprimida considerável por diversos bens e serviços. Existe também uma nova classe média que descobriu o crédito cinco anos atrás e que tem abusado dos prazeres do consumo. Além disso, há uma quarta explicação: os consumidores brasileiros tendem a ser mais tolerantes e menos exigentes. "Até pouco tempo atrás, uma minoria viajava e não havia base de comparação", diz o economista Nelson Barrizzelli. "Estamos mais críticos em relação ao que compramos. Mas ainda caminhamos nesse processo." É a primeira vez que essa ligação entre lojas e clientes é avaliada numa pesquisa mundial, realizada em 2008 em 11 países pela Ebeltoft Retail Experts, com apoio da GS&MD. Segundo o trabalho, 80% dos brasileiros confiam completamente na loja onde compram - contra 75% no mundo. A análise é crucial porque esse alto grau de identificação cria clientes fiéis. E são esses os menos seduzidos por descontos, algo comum em tempos de crise.
"Os chamados 'consumidores fiéis emocionais' não são tão influenciados por preços. Eles são as galinhas dos ovos de ouro do varejo", disse recentemente Lisa Bradner, analista da Forrester Research. Os brasileiros são mais propensos a criar essas relações com as lojas, independentemente de sua origem. "Tanto o formato americano quanto o europeu foram bem-sucedidos aqui. Isso não é regra. Basta ver como o Carrefour se deu mal nos EUA", diz Goes. Tome-se o exemplo da Leroy Merlin no Brasil. A rede francesa manteve o nome complicado (fala-se "Merlã") e no início vendia quadros e almofadas ao lado de tintas e cimento. O modelo deu tão certo que a cada seis meses ela abre uma nova unidade. É o mesmo que ocorre na FNAC, que era desconhecida e tinha um modelo inédito. Sinal de que há espaço para novas (e boas) ideias por aqui.
Nota do Caio: Essa matéria é excelente, mas existe apenas um adendo a ser feito. Mesmo nos casos que deram certo, como Leroy ou Fnac, é necessário sempre customizar a loja para o padrão brasileiro. Assim a Leroy Merlin, mudou o nome de "Lerroá Merlã" para Lerói Merlin, para se adequar ao consumidor brasileiro, assim como sua exposição de pisos ou tintas, seguindo mais pelo padrão brasileiro. Redes que insistiram em manter os padrões impostos pela matriz, como a francesa Castorama (que em francês fala-se "Castorramá"), trazendo um padrão de bricolagem que não colou ao público brasileiro, acabou fechando (no caso, as lojas foram vendidas à C&C Casa e Construção)
Um grande abraço e boas vendas
Caio Camargo
FALANDO DE VAREJO