terça-feira, 12 de maio de 2009

Varejo têxtil contesta "invasão chinesa"

O setor do varejo têxtil de grande superfície representado pela Abeim (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) contesta de forma veemente as informações veiculadas por setores da indústria têxtil brasileira de que há uma "invasão" de produtos chineses têxteis no Brasil. "A indústria utiliza os dados da balança têxtil para justificar o mau desempenho e as demissões no setor, como se a China estivesse enviando seus excedentes de produtos ao Brasil. O intercâmbio comercial da China com o Brasil representa apenas cerca de 1% das trocas comerciais da China com o resto do mundo. É muita ingenuidade acreditar que o Brasil está sendo a tábua de salvação para a crise chinesa", afirma Sylvio Mandel, presidente da Abeim.


O que não é levado em conta nas manifestações da indústria, segundo a Abeim, é que os contratos de compras das importações neste início de ano ocorreram em maio 08, num momento de economia aquecida em que não se pensava em crise mundial. "As compras do varejo são programadas com 9 meses de antecedência e seguem as perspectivas dos níveis de consumo. Nada é feito de uma hora para outra. Nove meses atrás todos nós tínhamos a expectativa de que em 2009 os níveis de crescimento continuariam em patamares elevados. O varejo acompanhou esta perspectiva no planejamento das coleções de inverno", afirma Mandel.

Segundo a Abeim, o varejo têxtil acabou sendo penalizado como outros setores pelo desaquecimento da demanda interna e pela elevação do dólar. Pesquisa trimestral realizada pelo Iemi - Instituto de Estudos e Marketing Industrial demonstrou o excepcional aumento de preços dos artigos de vestuário importados. No primeiro trimestre de 2007 o preço médio foi de US$ 8,67/kg, passando para US$ 13,58/kg em 2008 e US$ 15,23/kg em 2009, o que representa acréscimo de 75,6% no período. "O varejo têxtil brasileiro, a despeito da alta do dólar e da redução da demanda, decidiu honrar seus compromissos com os fornecedores internos e externos", acrescenta.

"O intercâmbio comercial da China com o Brasil representa apenas cerca de 1% das trocas comerciais da China com o resto do mundo", diz Sylvio Mandel.
Isto também teria ocorrido com os principais clientes varejistas da Europa e Estados Unidos. "A indústria brasileira vem apregoando que há registros de excedentes de estoques na Ásia, que estariam sendo canalizados para o Brasil. Ora, o inverno europeu antecede o brasileiro e, portanto, os clientes da Europa e Estados Unidos realizaram suas compras da moda inverno antes da crise mundial", esclarece a Abeim.

Os chineses não reduziram seus preços e, se o fizerem, será, sem dúvida, para seus mercados mais importantes, como os Estados Unidos e Europa, e não para o Brasil", analisa Mandel.
A Abeim reitera que o varejo têxtil brasileiro não importa porque quer, mas sim porque precisa colocar nas vitrines artigos em que a produção nacional é deficiente, como a moda de inverno. Segundo pesquisa recente realizada de forma independente pelo Iemi, a própria indústria nacional não demonstra interesse em produzir estes tipos de artigo, como os que são produzidos lá fora. De uma relação inicial de 720 confeccionistas que declaravam atuar na produção de jaquetas e blusões no Brasil, apenas 507 são efetivamente fabricantes. E o que é mais expressivo: deste montante, apenas 37% (190 empresas) são produtores de jaquetas de tecidos artificiais e sintéticos (foco principal da pesquisa), as demais fabricam exclusivamente jaquetas ou blusões de jeans.

"De um universo de 720 empresas que a indústria têxtil informa produzir jaquetas, apenas 190 efetivamente fabricam este item no Brasil. A importação de jaquetas e blusões é a única forma de acesso do consumidor de baixa renda a esta categoria de produto", explica.
Mandel conclui alertando que as pessoas devem ter maior responsabilidade com suas declarações em momentos de crise. "A informação descabida de uma "invasão" chinesa neste momento só contribuiria para a tomada de decisões protecionistas completamente fora de contexto. A prioridade neste momento é manter o poder aquisitivo da população, do nível de empregos e evitar a inadimplência. O mundo inteiro, inclusive o governo brasileiro, tem reiterado que o protecionismo é a pior opção para este momento. Não é empurrando o ônus da crise para as importações que a indústria nacional vai se recuperar", conclui ele.