domingo, 7 de junho de 2009

Mercado de livros usados descobre a internet como novo canal de vendas

O professor de história Daxson Checcucci é comprador de livros usados há 15 anos. Tem um acervo de cerca de mil exemplares em casa e cumpre, com prazer, a tarefa de frequentemente ir até o sebo e percorrer as estantes para “garimpar” os títulos que, em livrarias, compraria novos por valores até maiores que o dobro. “Não gosto de tecnologia para essas práticas, prefiro vir e ver”, argumentou Checcucci.

Preços mais baixos e contato com os livros é o que buscam os clientes dos sebos, mas os vendedores de livros usados deram um salto, há alguns anos, e ocuparam espaços na internet, oferecendo produtos em ambiente virtual. Alguns dos maiores sebos do País têm sites para venda online. Há três anos, o carioca André Garcia, que era cliente de sebos, teve a ideia de criar site para cadastrar sebos brasileiros e oferecer os livros com serviço completo de compra via internet.

Surgiu o Estante Virtual, portal que tem 1.424 sebos e livreiros, de 247 cidades, cadastrados. O negócio, ao que parece, pelo menos para o dono do portal, segue imune à crise e, para este ano, a previsão é que sejam vendidos 36 milhões de unidades, o dobro do total registrado em 2008. Os preços menores, em média, 50%, são o maior diferencial do negócio dos sebos. Entre os donos das lojas cadastrados no portal, o entusiasmo não é tão grande, mas alguns avaliam que a vantagem é a maior visibilidade e a possibilidade de obter clientes de outros estados e países.

Eurico Brandão, dono do Sebo Brandão, o maior acervo em Salvador, com mais de 200 mil volumes, está cadastrado na estante há três anos, mas avalia que, do ponto de vista dos empresários do setor, a concorrência com os vendedores particulares foi prejudicial. “Enquanto eu ofereço uma coleção por R$ 500, um particular vende a R$ 100. Há dezenas de pessoas vendendo o mesmo livro. Para o cliente, de fato foi muito bom”, comenta Brandão. A Brandão tem cerca de 22 mil títulos cadastrados no Estante. Ele avalia que o negócio dos livros usados está em franca expansão e reclama da falta de lojas do mesmo porte que a sua em Salvador para as negociações na compra de bibliotecas.

Dados sobre volume de vendas e faturamento no mercado de livros usados não são alvo de levantamento das principais entidades do setor: o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, a Câmara Brasileira do Livro e a Associação Brasileira dos Editores de Livro. A pesquisa que encomendam à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) refere-se aos livros novos, interesse do mercado editorial. Os últimos dados apurados são de 2007. Na comparação com 2006, o faturamento com as vendas de livros para o mercado subiu 6,41%, chegando a R$ 2,2 bilhões. Números de 2008 estão sendo consolidados e serão divulgados no final deste mês.

“O ramo de livros usados trabalha com lucro presumido, não tem contabilidade, estoque. Fica difícil levantar esses números”, revelou Brandão, que considera atuar em “mercado em franca expansão”. A primeira loja foi inaugurada por ele em 1953, em Recife. Hoje mantém unidades nas duas capitais e em São Paulo.

Com acervo de cerca de 30 mil exemplares em duas lojas, Thomaz Queiroz mantém o Cantinho do Sebo há 20 anos. Criou um sistema de aluguel de livros em que o cliente pode alugar quantos volumes desejar ao longo de um mês, retirando dois de cada vez, por R$ 30. Romances, livros de filosofia, espíritas e de arte fazem parte do acervo, que também oferece gibis das décadas de 1960 e 1970. No cantinho do sebo também se encontram filmes usados em DVD, originais, por R$ 5, valor semelhante ao comercializado nas bancas de produtos piratas. Queiroz tem livros cadastrados no Mercado Livre há sete anos e contabiliza mais de duas mil vendas neste período. Nas lojas, afirma vender entre 500 e 700 volumes por mês.

Fonte: A Tarde On Line