segunda-feira, 22 de junho de 2009

Selic de um dígito deve beneficiar consumidor apenas a longo prazo

No último dia 10, o Banco Central reduziu a Selic — os juros básicos da economia do País, que servem de piso para outras taxas praticadas pelo mercado — em 1 ponto percentual, para 9,25% ao ano. Foi a primeira vez na história em que ela foi fixada em apenas um dígito. Apesar de ser uma conquista importante para a economia brasileira, seus benefícios só chegarão ao bolso do consumidor a longo prazo.
Segundo o vice-presidente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira, a queda da Selic para 1 dígito, a princípio, não muda absolutamente nada para o consumidor. "No ponto de vista prático, são apenas alguns centavos de economia", afirma.
Contudo, Oliveira ressalta que o País tem muito a ganhar, principalmente porque existe a perspectiva de que os juros continuarão caindo. "Indiretamente há uma importância fundamental. Isso porque as empresas investem mais, o risco de desemprego diminui, as pessoas ficam mais motivadas a comprar, a economia cresce mais e há um incentivo à produção e ao consumo", explica.
Além disso, com os juros mais baixos, aumenta a disponibilidade de crédito para o consumidor. "Os bancos passam a ver mais vantagem em emprestar do que em comprar títulos do governo. Dessa forma, há mais crédito para o consumidor e, consequentemente, mais competição entre as instituições, o que contribui para diminuir os juros", avalia.

Juros na ponta

De dezembro de 2008 a maio deste ano, a Selic já foi cortada em 25,45% (ou em 3,50 pontos percentuais), passando de 13,75% para 10,25% ao ano. No mesmo período, os juros ao consumidor diminuíram, em média, apenas 4% (ou 5,52 pontos percentuais): de 137,91% para 132,39% ao ano.
Aparentemente, houve uma diminuição muito maior na Selic (25,45%) do que nas taxas de juros para pessoas físicas (4%). No entanto, o vice-presidente da Anefac faz uma ressalva: "o padrão do mercado é apresentar a queda em pontos percentuais e não em porcentual. A Selic caiu 3,50 pontos percentuais de dezembro pra cá, enquanto os juros para pessoas físicas, 5,52. Isso significa que os juros caíram em maior proporção para o consumidor", explica.
Segundo ele, todos os cortes que a Selic sofreu desde dezembro foram repassados ao consumidor. "No entanto, como as taxas ainda estão muito altas, esse efeito acaba não sendo percebido pelas pessoas", diz.
Isso acontece porque, segundo Oliveira, os juros para pessoas físicas são compostos por outros custos. "A taxa de um empréstimo é composta pelo custo de captação do banco, despesas administrativas, expectativa de inadimplência, margem de lucro e outros. Todos esses componentes estão em patamares altos e contribuem para os juros também ficarem elevados", esclarece.
No quadro abaixo, é possível relacionar a diminuição da Selic com as quedas nas demais taxas para o consumidor, no período de dezembro a maio. No caso do empréstimo pessoal em financeiras, por exemplo, houve uma queda de 12,93 p.p. — quase 4 vezes a mais do que na taxa básica. No entanto, os juros anuais ainda são exorbitantes: 257,10%.

Longo prazo

Na avaliação da Anefac, as condições devem ficar cada vez melhores para o consumidor. "A expectativa é que a Selic continue caindo e, com ela, haja uma melhora nas condições de crédito. Seja porque houve melhora do ambiente econômico com menor risco de inadimplência, seja pelo fato de as taxas se encontrarem em patamares tão elevados que permitem reduções maiores", explica.
Para o vice-presidente da entidade, haverá momentos em que as taxas de juros na ponta vão cair mais do que a Selic. "Isso acontecerá porque as taxas estão muito altas e a Selic abaixo de dois dígitos reduz o apetite dos bancos. Mas será um processo gradativo, ainda não dá para o consumidor sair comemorando. Acho que vai levar um período de dois anos para as taxas estarem em um patamar razoável", acredita.
Até que isso não aconteça, Oliveira dá orientações ao consumidor: "cabe a ele pesquisar muito antes de fazer um financiamento e, se possível, se planejar para comprar à vista ou para dar uma boa entrada. Ele também deve evitar o cheque especial - se precisar usar, que seja por um período curto e emergencial - e não deixar rolar a dívida do cartão de crédito", orienta.

Fonte: Carolina Lopes/ Diário OnLine