Na última quarta-feira (15), o governador em exercício do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), sancionou lei que prevê, em três anos, o fim das sacolas plásticas descartáveis no Estado. Os estabelecimentos comerciais deverão oferecer “bolsas feitas de material reutilizável”, segundo determina a lei.
O prazo terá validade diferente, de acordo com o porte das empresas: microempresas terão três anos para a substituição das sacolas, empresas de pequeno porte terão dois anos para efetuar a troca e as demais terão somente um ano para se adequarem à determinação.
No estado de São Paulo, um projeto menos radical, o 534/2007, que previa a obrigatoriedade dos estabelecimentos oferecerem sacolas plásticas apenas de material oxi-biodegradável (produzidas com um aditivo químico que acelera a decomposição de 100 anos para 5) foi vetado pelo governador José Serra (PSDB).
No entender do governador, a decisão não pertencia ao âmbito estadual e poderia “causar restrição à livre iniciativa e à livre concorrência”, uma vez que, na avaliação de Serra, tornaria “mais onerosa a atividade comercial” em São Paulo. De acordo com o veto, o projeto de lei afetaria “a competitividade” das empresas paulistas em comparação com as de outros Estados.
A capital mineira Belo Horizonte (MG), e as cidades paulistas de Piracicaba, Sorocaba e Jundiaí são exemplos de municípios que tornaram lei a distribuição de sacolas oxi-biodegradável ou retornáveis (feitas de pano, lona ou plástico reciclado). Já o Estado do Paraná e a capital Porto Alegre (RS) tentam aprovar desde 2007 os projetos de lei nº 134 e 320, respectivamente.
Adaptação
O prazo para adaptação do comércio às sacolas oxi-biodegradável se mostrou um problema em Jundiaí. A Lei municipal nº 7.210, sancionada pelo ex-prefeito Ary Fossen (PSDB) em dezembro de 2008, previa seis meses para que os estabelecimentos substituíssem as sacolas plásticas convencionais pelas oxi-biodegradável.
Em junho deste ano, ao final do prazo, empresas solicitaram a prefeitura a extensão do prazo, alegando que tinham em estoques sacolas suficientes para abastecer os caixas durante 8 meses. Segundo a prefeitura, a fiscalização e a aplicação de multas está suspensa na cidade.
Autor da lei e atual subprefeito de Perus, em São Paulo, Fossen acredita que a ampliação do prazo “é necessária”. “O comércio quer a prorrogação por um ano por causa do estoque que as empresas têm. Além disso, muitos fornecedores não estão preparados para produzir as sacolas plásticas oxi-biodegradáveis”, justifica.
Para Fossen, as empresas, o comércio e a sociedade necessitam do estabelecimento de leis para diminuir o uso de plástico. “O ideal seria uma legislação de âmbito nacional”, comenta.
Soluções
A rede de supermercados Russi, de Jundiaí, implementou no prazo determinado pela lei municipal a distribuição de sacolas plásticas oxi-biodegradáveis em suas sete lojas. De acordo com Ana Paula Morim, assistente de marketing da Russi, a lei incentivou a empresa a fazer a mudança. “Desde outubro de 2008 temos sacolas reutilizáveis à venda em todas as filiais da rede. Com a lei, investimos na adaptação ao material oxi-biodegradável”, afirma.
As sacolinhas convencionais custam cerca de R$ 0,03 por unidade. Já os novos modelos tendem a ser mais caros, mas os estabelecimentos não revelam o preço final. “As sacolas oxi-biodegradáveis representam um investimento, já que este material tem um custo maior do que o convencional”, diz Ana Paula, que prefere não divulgar valores. Os projetos não preveem mecanismos de reembolso para o comércio que adotar o novo plástico.
Mais resistente
Outra alternativa à diminuição do uso das sacolas plásticas é a sacola “ultra-resistente”, capaz de abrigar 6 kg em produtos, em vez de 4,5 kg, como a maioria das convencionais. O Grupo Pão de Açúcar adota esse produto em âmbito nacional e observou uma redução no consumo.
“Em maio a economia de sacolas plásticas foi de 34% se comparado ao mesmo período do ano passado”, destaca Paulo Pompilio, diretor de Responsabilidade Socioambiental do Grupo. Para Pompilio, é dever dos estabelecimentos “oferecer alternativas aos consumidores”.
Dados do Instituto Sócio-ambiental dos Plásticos (Plastivida), ligado à indústria produtora de plástico, indicam que o Brasil produz 16,4 bilhões de sacolas plásticas por ano. Segundo o presidente do Plastivida, Francisco de Assis Esmeraldo, a produção está em queda: em 2008 houve redução de 3% na produção, 500 milhões de unidades a menos na comparação com o ano anterior.
Mas o País precisa melhorar a política de reciclagem do material e mudar o hábito de aterrar o lixo. “O plástico é um material feito para durar, não para se decompor. É um desperdício jogá-lo no lixo em vez de reciclar”, ressalta.
De acordo com o presidente do Plastivida, com o aumento da espessura das sacolas, o consumo irá ser reduzido em até 37% nos próximos 5 anos. “A solução para o problema não é única, mas a redução do desperdício é de extrema importância. A sacola deve aguentar 6 kg e os consumidores não devem usar mais de uma para transportar alimentos”, destaca Esmeraldo.
Fonte: Último Segundo