segunda-feira, 27 de julho de 2009

Livrarias de olho na região Nordeste

Para o diretor-presidente da Saraiva, o Nordeste é uma região em crescimento. Por isso, a implantação das livrarias em algumas capitais

De acordo com o diretor-presidente da Saraiva, Marcílio D´Amico Pousada, o interesse pelo mercado de Fortaleza é natural, já que nos últimos dez anos o Nordeste é a região onde o mercado de bens de consumo mais cresceu no País. “Como a livraria de Fortaleza, temos duas em Salvador e uma em Recife”, afirma.

Quando questionado sobre a real diferença entre a nova livraria e a antiga, resume: “A Siciliano possuía entre 25 e 30 mil exemplares diferentes, nós contamos com mais de 70 mil itens, além de termos cadastrados mais de 1,5 milhão”. Outro diferencial - e esse está bastante visível na loja - é a atenção a itens como CD, DVD´s, papelaria, multimídia, revista e informática, uma tendência seguida por outras lojas, que também não são especializadas na venda de filmes e CD´s de música, por exemplo.

Aliás, nesse ponto, é perceptível o desaparecimento desse tipo de comércio na cidade, com exceção de uma ou outra loja que ainda resiste. “Mesmo com a dificuldade do mercado de música e filmes, oferecemos uma linha completa para as pessoas que querem ´degustar´ na loja antes de comprar”.

O acervo de livros, segundo o presidente, enfoca principalmente as artes, literatura e auto-ajuda. “Com relação aos autores locais, vamos continuar fazendo o que havia sendo feito na Siciliano. Estamos contratando uma pessoa que vai entrar em contato com toda a atividade cultural da região para tornar isso possível”.

Conhecidas pela venda de best-sellers, as livrarias nacionais, no entanto, parecem não se dar conta da diversidade de seus clientes. Guiadas pela lógica da “ditadura” dos concursos, investem nas inúmeras prateleiras de Direito, enquanto outras áreas, como as de humanas, permanecem “ocultas” dentro de outras seções. “Uma de nossas fortalezas são os livros técnicos, mas admito que realmente não há uma seção específica para alguns assuntos, como é o caso de jornalismo”, afirma Marcílio.

Já a Cultura, que inaugura loja no shopping Varanda, com acervo de 150 mil exemplares, provoca expectativa exatamente em torno dos acadêmicos. No Brasil, tem um cadastro diverso em torno de 2,5 milhões de títulos. Com a abertura de sua segunda loja no Nordeste (a outra fica em Recife), a megastore é aguardada com ansiedade. No momento, está inclusive fazendo seleções para novos funcionários, com promessa de “remuneração e benefícios diferenciados do mercado em que atua”.

A Cultura também é referência quando se fala em editoras. No ano passado, foi reaberto um antigo ponto da livraria no Conjunto Nacional, em São Paulo, com o nome de Companhia das Letras por Livraria Cultura. Nela, somente livros da editora são comercializados. O mesmo aconteceu este ano, no caso do Instituto Moreira Salles. Agora é esperar para ver.

Mudanças

A proprietária da livraria Lua Nova, Eliza Mariano, acredita que é interessante a chegada das megastores. “A gente precisa de mais livros. Quanto mais espaço tiverem com material que possa proporcionar conhecimento, melhor”, opina.

No entanto, confessa a necessidade de incorporar melhorias na própria loja, como atendimento mais ágil, mudança na disposição dos livros com o objetivo de facilitar a busca, emprego de profissionais especializados, construção de um site, além de oferecimento de serviços, como cartão-fidelidade e entrega.

“Vejo que nesses nove anos de livraria, em que nos especializamos nas ciências humanas, conseguimos conquistar uma clientela fiel, então acredito que essas pessoas permaneçam conosco”.Com quatro funcionários, a loja necessita, segundo Eliza, de mais quatro, para atender a demanda. Entre outros entraves, a proprietária cita o problema em adquirir livros de determinadas editoras. “Muita coisa a gente briga e paga para ter aqui, porque o eixo fica mesmo no Rio, São Paulo e Minas. Nem sempre a quantidade de livros que a gente pede, vem”, reclama.
A proprietária, contudo, é otimista e sonha com o dia em que será possível investir na própria loja, oferecendo conforto e outros produtos, como CD´s, DVD´s, revistas e, quem sabe, construir uma sala de leitura. “Pretendo trabalhar para isso: que as coisas aconteçam”.

O jornalista e professor de comunicação da UFC, Ricardo Jorge, tem experiências com as megastores. “Tenho o cartão-fidelidade das duas livrarias. Elas vêm com produtos diferenciados, inclusive sei que a Cultura importa livros americanos, europeus. Para quem ainda gosta de comprar CD, quem se interessa por figuras de ação e, de uma forma geral, para quem consome produtos culturais, é muito interessante”, avalia.

Para o pesquisador, por exemplo, que às vezes necessita de jornais de outros estados para consultas, os serviços oferecidos são uma “mão na roda”. “O fato de os vendedores serem estudantes das áreas nas quais trabalham é outro fator importante. Já cheguei a comprar determinado livro por conta de dicas de vendedor”.

Como pesquisador, professor e leitor, avalia: “Não acho que a chegada das megastores chacoalhem as livrarias acadêmicas, aquelas que já têm noção do tipo de público que pretende manter. Mas isso só o tempo vai dizer. Muito se fala na internet, mas eu particularmente gosto de folhear o livro, ver se tem algum defeito. Ter a loja fisicamente, mesmo que você não vá até ela comprar o livro, ajuda. A quinta Capital do País estava precisando de um upgrade intelectual”.

Fonte: Diário do Nordeste