quinta-feira, 30 de julho de 2009

Varejo faz crescer

A explosão do consumo na classe C nordestina puxa os empregos na região e aquece indústria e logística

O aumento do consumo no Nordeste, motivado pela ascensão de pessoas para a classe C, está mudando a economia local e movimentando o mercado de trabalho na região. A explosão do consumo se deve em grande parte aos bilhões de reais injetados pelos programas assistenciais do governo federal. Foram 5,7 bilhões liberados em 2008. Os setores mais beneficiados pelos recursos são os de alimentos e bebidas, higiene pessoal, roupas e calçados. A reboque crescem as empresas que integram a cadeia do consumo, como magazines, shopping centers, supermercados e prestadoras de serviços ao varejo. Dados da consultoria Target mostram que o Nordeste passou a região Sul em termos de consumo, com 317 bilhões de reais em 2008, e hoje representa 18% do consumo brasileiro. A febre consumista gera empregos. “As empresas estão investindo na contratação de pessoas”, diz o economista Márcio Borba, da Borba Consultoria e Projetos, de Recife, em Pernambuco. Para todo o ano de 2009, a rede Atacadão tem como plano contratar 1 720 pessoas para suas lojas no Nordeste. O mesmo número previsto para o Sudeste do país.

CADEIA DE CONSUMO
O mercado de logística também aproveita o boom do consumo. A pernambucana Rapidão Cometa, maior empresa da região e uma das cinco maiores do setor no país, aumentou seu faturamento em 25%. “O Nordeste tem uma curva de crescimento maior que a de outras regiões. Acompanhamos esse crescimento”, diz o gerentegeral da unidade de Recife, Pedro Borba, de 37 anos, que fez carreira na companhia e há três anos assumiu o cargo atual. “Nós recrutamos estudantes recém- formados de cursos como engenharia de produção e administração de empresas, e os exportamos para outras unidades. Desde 2007, a empresa contrata em média 700 novos profissionais por ano. A expectativa é manter a média para 2010.

Em Salvador, na Bahia, o segmento de shopping centers tem se beneficiado da explosão do consumo. Em apenas dois anos, a indústria de shoppings da cidade ampliou a sua área total locável, ou seja, os espaços que alugam para as lojas, em mais de 60%, com a abertura de novos centros de compra e a ampliação dos que já existem. A previsão é que, até 2011, esse número chegue a 158%. “O consumidor da classe C vai sempre se esforçar para saber o que está nas vitrines, mesmo as das lojas frequentadas pelo público A e B”, diz Alexandre Manzalli, de 39 anos, diretor de operações da Enashopp, responsável pelos projetos e administração de dois centros de compra em Salvador — o Shopping Barra e o Shopping Paralela. Paulista de Santos, Alexandre mudou-se para Salvador em 2000, ao ser contratado como superintendente do Shopping Barra. “Adotei a cidade pela qualidade de vida e possibilidade de fazer carreira numa empresa que está crescendo”, diz Alexandre. A Enashopp, que administra seis shoppings de grande porte na região, está com mais dois projetos em andamento, que devem contratar mais 1 000 profi ssionais em diversos níveis até 2011. E está expandindo sua atuação para Angola, onde implantou o Belas Shopping. Os serviços e a indústria diretamente ligada ao varejo também crescem com essa onda. A carioca Selma Rocha Fernandes, de 43 anos trocou uma grande empresa de telefonia, em São Paulo, pela diretoria de recursos humanos da Coca-Cola Guararapes — próxima de Recife —, distribuidora de bebidas que atende Pernambuco e Paraíba. “Vi que o ritmo de crescimento na região está muito acelerado, maior que o do Sudeste. São investimentos altos, muitas empresas chegando e também uma oferta maior de empregos”, diz Selma.

EM OBRAS
O setor de infraestrutura também oferece oportunidades de carreira. No Complexo Portuário de Suape, começaram a funcionar o Estaleiro Atlântico Sul e a fábrica da M&G, uma das três plantas do polo petroquímico da região. “Suape é um enorme canteiro de obras. Agora, a procura ainda é por pessoal de nível operacional, mas já há uma tendência de as companhias levarem gestores para a região”, diz Gustavo Ribeiro, consultor da Michael Page no Rio de Janeiro, empresa de busca de executivos. Por causa de acordos com o governo da região, há a necessidade de contratar pessoal local, mas não há ainda um número de gestores para suprir a procura, que vai se intensificar nos próximos dois anos. A Refinaria Abreu e Lima é um dos projetos em fase de implantação e já foram anunciados um centro de distribuição (e uma fábrica, mais adiante) da montadora GM, uma unidade de siderurgia da CSN e uma termoelétrica Suape II. Todas essas empresas fazem parte de 17 projetos que devem gerar 32 000 empregos, em diversos níveis, apenas na fase de construção, e 10 000 empregos diretos, previstos para a fase de operação. Ainda em termos de infraestrutura, Pecém, no Ceará, recebeu recentemente a siderúrgica da Vale e o terminal de regaseifi cação de GNL. No final do ano os leilões para a exploração da energia eólica no Ceará vão elevar a busca por profissionais. “E, ao trazer esse pessoal de fora, os salários podem chegar ao mesmo patamar dos de São Paulo ou Curitiba”, diz a consultora Jandira Fernandes, da Exata RH, de Salvador. Os salários na área de serviços e varejo, para gerência, variam em torno dos 15 000 reais. “Ficam próximos dos valores do Sudeste, uma vez que muitos dos contratados ainda vêm de outras regiões”, diz Gustavo, da Michael Page.

As melhores cidades:
1° RECIFE (PE)
2° SALVADOR (BA)
3° FORTALEZA (CE)
4° NATAL (RN)
5° JOÃO PESSOA (PB)
6° SÃO LUIZ (MA)
7° ARACAJU (SE)
8° TERESINA (PI)
9° MACEIÓ (AL)
10° CAMPINA GRANDE (PB)
11° MOSSORÓ (RN)

Fonte: Você S/A