domingo, 26 de julho de 2009

Varejo incentiva uso do cheque como forma de evitar custo do cartão

número de transações com cheque no Brasil caiu 36% entre 2003 e 2008, mas esta ainda é a forma de pagamento que movimenta mais recursos no País. No ano passado, cerca de R$ 1,1 trilhão foram pagos com cheque, enquanto o cartão de crédito movimentou R$ 212 bilhões e o de débito R$ 103 bilhões. O comércio baiano tende a ter um volume alto de transações com cheque, de acordo com Carlos Roberto Oliveira, superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL). “O uso de cheque está cada vez mais estimulado no comércio, porque gera custo menor do que o cartão de crédito. Os cartões de crédito e débito vão crescer mais, mas o cheque não vai acabar”, diz.

Carlos Roberto Oliveira diz que o microempresário paga em média 5% do valor da compra como taxa de administração para os bancos, enquanto o percentual de inadimplência dos cheque fica em torno de 2% a 3%, por isso ele considera o cheque mais vantajoso para o comércio. O superintendente da CDL diz que de olho nessa economia, alguns lojistas têm incentivado o pagamento das compras com cheque na Bahia. Um exemplo disso é a Lar Shopping, que parcela as compras em até 20 vezes no cheque, enquanto no cartão de crédito o limite é de 12 parcelas. “É um diferencial, que torna nosso produto acessível a clientes que achavam que não teriam condições de comprar, mas quando percebem a flexibilidade, acabam comprando”, diz Valdo Araújo, gerente das lojas do Iguatemi e Lauro de Freitas.

Cuidado – Mas Edinélia Almeida, coordenadora de acompanhamento de processos do Procon-BA, diz que o cliente deve ficar atento a esses parcelamentos. “Algumas empresas não dizem ao consumidor que há juros na transação. Se você paga no cartão de crédito, é um valor; no cheque, é outro. Isso deve ser informado previamente em toda e qualquer situação que for efetivado o consumo”, explica Edinélia, acrescentando que quem se sentir lesado por juros abusivos ou falta de informação pode denunciar no Procon.

Ela diz que os juros abusivos e cheques compensados fora da data acordada são as principais queixas no que diz respeito a transações envolvendo cheque. “O Código de Defesa do Consumidor, por força do princípio de boa-fé e transparência das informações, diz que no momento que o fornecedor aceita o cheque emitido

pré-datado, tem de cumprir o que foi consolidado. Se isso não for respeitado, o consumidor pode solicitar cumprimento do acordo através do Procon e entrar com ação no Poder Judiciário solicitando perda materiais e danos morais”, explica. pré-datados – De acordo com levantamento da CDL, 68% dos cheques emitidos na Bahia são pré-datados. O diretor regional do Nordeste da TeleCheque, Ricardo Régis, diz que a facilidade de escolher a data de compensação do pagamento é uma das grandes vantagens do cheque.

“O consumidor escolhe o dia bom de pagamento, parcela em mais vezes e tem um limite maior no cheque”, diz, explicando porque essa forma de pagamento é mais utilizada em transações com volumes maiores de dinheiro. De acordo com o Banco Central (BC), o brasileiro gasta, em média, R$ 835 em negócio com cheque, sendo que o valor gasto com cartão de crédito é de R$ 85 e de débito, R$ 49.

Mesmo gastando mais com cheque, o brasileiro e baiano tem honrado as dívidas. Em junho de 2009, 96,76% das despesas pagas com cheque na Bahia foram pagas. No Brasil, a adimplência é de 97,69%.

Apesar de o cheque ainda ter espaço no mercado, essa não é a forma preferida dos brasileiros de pagar as contas. O cartão de crédito é o principal instrumento de pagamento. Em 2008, 2,481 bilhões de transações foram realizadas com cartões de crédito. O vendedor Ricardo Silva, 30 anos, está entre esses brasileiros. “Utilizo o cartão de crédito para pagar todas as minhas contas. Não tenho nem cheque, nem cartão de débito”, conta.

cartão de débito – O uso do cartão de débito também está ganhando força no País. Entre 2003 e 2008, houve um crescimento de 217% no seu uso, passando de 662 milhões de transações para 2,100 bilhões, de acordo com o Banco Central. No diagnóstico do sistema de pagamentos de varejo no Brasil, realizado em 2008, o BC avaliou que “ainda há espaço para aumento na utilização desse instrumento de pagamento”.

O educador financeiro Reinaldo Domingos vê esses números com desconfiança. Ele diz que o uso do cartão de débito não representa uma conscientização do consumidor. “Não necessariamente quando usa o débito, tem dinheiro na conta. Normalmente está usando o cheque especial, que é muito caro e deve ser evitado”, analisa. Domingos aconselha que o consumidor continue utilizando o cartão de débito, mas sem fazer uso do cheque especial.

“O certo é juntar dinheiro e comprar sempre dentro do orçamento. Aí ele pode usar cheque ou cartão de débito, sendo que o débito é mais seguro em caso de roubo ou perda, porque tem senha”, recomenda, lembrando que é necessário guardar os tíquetes do cartão para controlar as despesas.

Fonte: A Tarde On Line