quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Cafés em São Paulo viram "segunda casa" de frequentadores

J.K. Rowling, criadora de Harry Potter, afirmou ter escrito o primeiro livro da série em um café da Escócia. Em São Paulo, essa prática solitária de passar horas em cafés escrevendo, lendo ou estudando é cada vez mais comum. Nas grandes redes da cidade --Fran's Café, Vanilla Caffè e Starbucks --, não é difícil ver um livro ou notebook aberto na mesa de um solitário.

Ou solitária. A escritora Liliane Prata, 29, é uma delas. "Metade do tempo que eu estudei pro vestibular foi em café", diz a formada em jornalismo que passou em filosofia há dois anos. "Em casa eu fico triste, sozinha... Em café não. Vejo gente, como um pouco, levo um livro para um intervalo..."

Liliane permanece por quatro, cinco horas em uma cafeteria. Mas o recorde vai para a estudante Letícia Mori, 20, que costuma ficar cerca de sete horas. Fazendo o quê? Lendo jornal, um romance ou navegando na internet. "Fico mais à vontade em café do que em casa", revela a universitária de Jundiaí, moradora de uma república em São Paulo.

Nem Letícia nem Liliane são paulistanas, e frequentar cafeterias foi uma forma de elas escaparem da solidão metropolitana. "No café tem gente, barulho, tá sempre animado", diz Letícia, que não se importa com ruído. Liliane também não. "Eu não gosto de estudar é em biblioteca, onde você percebe qualquer barulhinho."

Mas não é só ruído que elas ouvem. Diálogos com desconhecidos acontecem. "Já saí com caras que conheci em cafés", diz Liliane. "Também aconteceu várias vezes de gente conversar comigo sobre o livro que eu tô lendo."

Moradora da região dos Jardins, a escritora elegeu o Fran's como seu preferido, "apesar de ninguém gostar". Letícia gosta do Vanilla da região da Consolação. Ambiente aconchegante e serviço prático são algumas das razões apontadas por elas. "É como se você estivesse em casa, mas em uma casa linda, confortável e animada", ri Letícia.
Cara fechada

Aconchego à parte, tem proprietário que não gosta de gente plantada o dia todo em suas mesas. Liliane conta que, uma vez, depois de almoçar, foi estudar no Havanna Café dos Jardins e só pediu um café. A todo momento era abordada pela garçonete. "Ela me perguntou um monte de vezes, com uma cara fechada, se eu não ia pedir mais nada", reclama.

"Realmente abordamos bastante a mesa", admite Marcelo Vianna, gerente do Havanna Café da rua Bela Cintra. "Ao contrário de cafés por aí, a gente tem necessidade de vender nossos produtos", diz. "Mas sempre deixando o cliente à vontade...", pondera.

Fonte: Saulo Yassuda/ Folha Online