quarta-feira, 21 de abril de 2010

“Governo tem muita regularização que não gera melhoria alguma”, afirma Delfim Netto

Fecomercio organiza encontro com grandes nomes da economia brasileira para debater qual o tamanho e a importância do Estado no desenvolvimento do país

“Não é necessário reestatizar para crescer”. A afirmação, feita pelo ex-presidente da Petrobrás e da Embraer, Ozires Silva, representa a opinião de alguns dos mais importantes pensadores do desenvolvimento econômico brasileiro, que se reuniram ontem (20/4), na Fecomercio-SP, para discutir o tema central da campanha presidencial de 2010: qual o papel do estado no desenvolvimento econômico do País.

Durante o debate, Paulo Rabello de Castro, presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio, destacou a importância dos investimentos feitos pelo Estado, principalmente no campo social, mas criticou a manutenção da alta carga tributária no país. “É essencial que o próximo governo revise a tributação”, aponta.

“Precisamos resolver o desastre que é a tributação em cascata”, concorda Luiz Gonzaga Belluzzo, professor do Instituto de Economia da Unicamp. Rabello de Castro dá um passo adiante e censura o Governo, que segundo ele, retira com uma mão o que dá com a outra. “Os maiores prejudicados pela tributação absurda que temos no Brasil, são as pessoas com menos recursos”, aponta. “É indecente. O consumidor tem o direito de saber exatamente quanto paga de imposto em cada mercadoria.”

Belluzzo levanta outro ponto relevante ao abordar relação do Estado com o Mercado, para ele, duas instituições que não podem ser pensadas isoladamente. “Claro que não faz sentido o Estado continuar como o principal agente de mercado, mas há problemas que só o Governo pode resolver”, completa.

José Celso Pereira Cardoso Jr., diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (DIEST) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), segue o pensamento do professor da Unicamp e afirma que é preciso entender qual a função do Estado para o desenvolvimento brasileiro. “Desenvolvimento não é só crescimento econômico”, assinala.

Para Ozires Silva a função do Estado deve ser capacitar os jovens para que o setor produtivo se torne mais competitivo. “Não podemos pensar no Brasil como ‘campeão das commodities’”, ironiza. “Precisamos agregar valor aos nossos produtos, e isso só virá com uma bela reforma na educação.”

Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, defende que o Estado deveria concentrar seus esforços em ações fundamentais para a sociedade, como educação, saneamento e saúde. No entanto ele é direto ao afirmar que seria um erro reestatizar qualquer coisa. “Quando eu estimulei as estatais, era porque o setor privado não tinha musculatura para fazer o que era necessário”, explica. “Enquanto as privatizações, no Brasil, alcançaram um ótimo resultado, o Governo criou muita regularização que não gera melhoria alguma.”