terça-feira, 7 de agosto de 2012

Idoso é a vovozinha!

por Fabiana de Brito

Estamos vivendo mais. A expectativa de vida aumentou muito nos últimos anos. Segundo dados do IBGE, a expectativa do brasileiro nascido em 2010 alcançou 73,5 anos de vida. Em 1910, este número era de apenas 33,4! Hoje, a faixa etária de mais de 60 anos é a que mais cresce no País e é responsável por uma renda que soma R$ 7,5 bilhões ao mês. Estes números trazem reflexos diretos no consumo e no varejo, que, aos poucos, volta os olhos para este público.

Os idosos de hoje têm qualidade de vida, têm mais independência e estão constantemente consumindo. Segundo a pesquisa da GFK com foco específico neste grupo, a maioria é urbana (80%) e grande parte (70%) são chefes de família e quase metade (47%) oferece suporte/ajuda para outros familiares e amigos.

Eles têm renda, têm mais tempo para comprar, frequentam o supermercado pelo menos cinco vezes por semana, passeiam em shoppings e consideram as compras uma forma de lazer. De acordo com pesquisa do Datafolha, publicada em 2008, 72% dos idosos saem de casa todos os dias.

Este segmento está preocupado com a saúde, com o bem-estar e aparência. E toda uma série de produtos já é oferecida para suprir esta demanda: vitaminas, cremes antienvelhecimento 60+, maquiagens e shampoos especiais. Cada vez há mais lançamentos de produtos para a terceira idade.

Algumas lojas de moda também já começaram a implementar algum tipo de adequação ao público idoso: nada de roupas muito curtas, decotadas ou em cores neon. A moda adolescente é diferente da moda da terceira idade. Vale ressaltar que estamos falando de moda e não dos famosos pijaminhas que os avós costumavam usar.

Outro tipo de demanda específica para este público são os produtos que aumentam a segurança do idoso em casa, como os antiderrapantes para tapetes e ferragens para banheiro etc.

E não vamos nos esquecer dos serviços: vans que levam e trazem idosos para os teatros, cinemas, bailes da terceira idade; entregas em domicílio para compras maiores; pacotes turísticos especiais para grupos de terceira idade, hotéis com serviços especiais, instituições de ensino com cursos voltados para este público.

Este é um público que não gosta de lugares lotados, com filas intermináveis e barulho alto (lugares para os muito jovens). Preferem viajar fora da alta-temporada. Mas isso não significa que não são animados.

Os pontos de venda, de diversos setores, precisam se preparar cada vez mais para atendê-los. Segundo a pesquisa da GFK, um dos grandes problemas mencionados pelos entrevistados na hora das compras ainda é a dificuldade de se ler os rótulos miúdos. Portanto, é necessária uma adequação para que este público se sinta bem-vindo – seja no produto, no serviço ou no ambiente.

Cabe aos pontos de venda planejar etiquetas com letras maiores, informações sobre os produtos com boa legibilidade, ambientes iluminados, música suave, espaços que não sejam muito apertados, acessos fáceis – sem rampas muito inclinadas, com corrimão, com calçadas sem buracos, portas amplas. Muitas farmácias, por exemplo, já disponibilizam banquinhos para a espera no balcão e áreas de descanso, além da rampa de acesso, visando proporcionar maior conforto a este público.

Outro foco muito importante para adequar à terceira idade é o atendimento - que deve ser personalizado, educado e paciente para responder todas as dúvidas e questões. Estes consumidores não gostam que lhes “empurrem” as mercadorias e perguntam muito. Trata-se de um “shopper” que planeja mais antes de ir às compras. Além disso, eles quase sempre pedem uma segunda opinião antes de comprar certos produtos. Por isso, a equipe do varejo tem que estar treinada para lidar com estas questões.

Apesar de não serem nativos digitais, pelo contrário, a turma da terceira idade tem certa dificuldade de lidar com os últimos lançamentos tecnológicos, eles vêm gradualmente aprendendo a usar o computador, principalmente para pesquisar sobre produtos e serviços. Eles já descobriram que, pela Internet, podem buscar as informações “no seu tempo”, nos seu próprio ritmo e até mesmo comprar online.

Por isso, há a oportunidade para que as páginas dos sites sejam elaboradas visando uma navegação intuitiva, bem sinalizada. Muitas vezes, este público vai perguntar ao “Google” o que o vendedor não tem paciência de explicar. Mesmo com o “pânico de apertar um botão errado” no computador, o idoso gosta de estar inserido na modernidade. Já existem etiquetas com letras maiores e luminosas para serem coladas no teclado do computador, facilitando a visualização.

Algumas empresas já simulam as dificuldades dos idosos para desenvolver produtos: as equipes usam óculos que diminuem a visão, simulando a catarata, e usam bandagens que restringem os movimentos, simulando a restrição de movimento de quem tem artrite ou artrose, para facilitar a criação e o design de produtos para idosos.

As marcas precisam tratar estes clientes com consideração, minimizando suas dificuldades, entendendo mais seus anseios, hábitos e aspirações. Aos varejistas, cabe adequar produtos e serviços para conquistar e potencializar o contato com este consumidor.

Fabiana de Brito é Gestora de Inovação no Ponto de Venda da agência DIA Comunicação