quarta-feira, 19 de junho de 2013

As boas práticas de Governança nas companhias varejistas

 Por Sidney Ito*


A aplicação dos princípios e práticas de governança à gestão das empresas tem evoluído significativamente no Brasil, e isso não poderia ser diferente entre as companhias que atuam no segmento de varejo. Essa percepção está expressa nos resultados do estudo “A Governança Corporativa e o Mercado de Capitais”, elaborado pela KPMG no Brasil com base nos dados divulgados nos Formulários de Referências preenchidos por 230 empresas de capital aberto listadas na BM&FBovespa e que incluíram todas as empresas do Novo Mercado, dos Níveis I e II de governança e as 50 tradicionais mais negociadas.


É claro que, apesar da tendência significativamente positiva, as companhias nacionais ainda têm um longo caminho a percorrer na aplicação das boas práticas de governança, é o que o levantamento mostra. Há ainda um pequeno descompasso entre as empresas varejistas e a média do mercado.

Pelas características do negócio varejista – e em razão de algumas mudanças de perfil de atividade, como a que aponta para a tendência de customização da oferta diante das demandas dos consumidores, ou para o fortalecimento do comércio eletrônico –, os gestores do segmento necessitam de indicadores precisos, disponibilizados em tempo hábil, e de informações confiáveis para a tomada de decisões.

Para garantir um fluxo de informações adequado, ainda mais em empresas que dependem de sistemas logísticos bem organizados e controlados, o uso de ferramentas tecnológicas – aliado a práticas e princípios da boa governança sempre pensando na centralização de dados no principal órgão ou autoridade decisória – acaba sendo uma iniciativa essencial para a boa administração. Otimizar o fluxo da informações entre as várias instâncias de gestão e de controle – tais como a Diretoria e Comitês de apoio ao Conselho de Administração – torna-se vital à adequada gestão das companhias.

De acordo com os dados do estudo, percebemos algumas diferenças nas práticas de governança nas empresas de capital aberto do ramo varejista em comparação à media de todas as empresas do estudo. Por exemplo, os Conselhos de Administração de empresas do setor tinham, até o mês de março de 2013, em média 7,4 membros, contra 8,45 no geral. Em relação à individualização dos ocupantes dos cargos de CEO e presidente do Conselho, o percentual de separação chega a 71% (contra 82,5% no geral).
Quanto à existência de Comitês de Auditoria, 33% dos varejistas dispõem dessa instância de apoio ao Conselho (ante 40,5% da média geral), mas apenas 13% deles são coordenados por um membro independente. E 63% das companhias de varejo do estudo têm Conselho Fiscal (contra 70,75% da média), mas só 24% desses conselhos atuam de maneira permanente.

Em relação à gestão de riscos, apenas 28% das empresas de varejo possuem uma estrutura de gerenciamento de riscos implantada. E, segundo os dados dos formulários de referência, só 3% delas declararam aumento de exposição a riscos no último ano, mesmo levando em consideração um setor sensível às mudanças provocadas pela crise econômica global e pelas variações de inflação no Brasil. Outro dado que desperta atenção relaciona-se ao fato de que o segmento de varejo foi o que registrou maior número de ressalvas feitas no parecer do auditor independente em relação à média do mercado.
Do lado positivo, os Conselhos de Administração do setor contam com 24% de membros independentes, dado acima da média do mercado, que é de 19,25%.

Obviamente, estes indicadores representam somente alguns componentes do conjunto de boas práticas de governança. Todavia, num segmento complexo, que trabalha com margens de lucro estreitas e com um volume enorme de informações, os gestores do varejo estão certamente atentos às eventuais fragilidades que podem representar aumento da exposição a riscos para o negócio. Melhorar processos e ampliar os recursos para aplicar as boas práticas de governança é essencial para garantir resultados mais robustos e valorizar as companhias neste mercado.

*Sidney Ito é sócio-líder da área de Risk Consulting da KPMG no Brasil e América do Sul.