sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A nova revolução será em 3D: Menos bits, mais átomos

Eu confesso que não encarava com seriedade, talvez pela falta de conhecimento do assunto, a revolução que a impressão 3D está causando no mundo, e como essa poderia afetar o mundo do varejo num futuro muito próximo.

A oportunidade de conhecer durante uma das visitas técnicas uma das lojas da Makerbot em Nova York, aguçou minha curiosidade pelo assunto, que até então eu encarava como um brinquedo ou produto capaz de fazer outros produtos, talvez muito mais interessante para geeks, artistas e designers do que para o público em geral.

A discussão sobre o tema no EUA pode ser vista no excelente documentário produzido pela Netflix chamado “Print the Legend”, que apresenta as principais empresas do segmento e seus posicionamentos de mercado, através de uma breve história desse mercado. O breve documentário, que começa em uma disputa entre grandes empresas e pequenos e sonhadores desenvolvedores (yet-to-be competitors), com seu posicionamento e sonhos, cobre no pequeno espaço de tempo, as profundas transformações que essas empresas estão também passando internamente.

Voltando a discussão do tema, se pensarmos em objetos comuns, e na replicação desses em impressoras 3D mais simples, voltadas ao consumidor normal (pois também existe a verdadeira produção industrial, voltada a segmentos como a indústria aérea e automobilística), a maioria dos produtos impressos finais hoje é confeccionada em plástico ou resina (como gnomos, peças de xadrez, e outros pequenos objetos) e sua velocidade de produção atual deixa a desejar se comparado à produção em escala de qualquer produto plástico, por exemplo, injetado.

Para efeito de comparação, um globo terrestre com cerca de 50cm de diâmetro leva cerca de 50 horas para ser produzido, algo que talvez desanime os mais ansiosos em criar uma coleção própria de peças de montar (como Lego) em casa para brincar.

Liberator: Arma produzida 100% em impressão 3D
Porém se pensarmos nas possibilidades de produção de objetos customizados ou 100% anatomicamente modelados ou adaptados ao seu comprador, é de fato uma ideia interessante, como para a produção de próteses, moveis e até mesmo roupas e acessórios. Imagine de fato criar um par de óculos que se encaixe 100% em seu rosto. Um bom exemplo disso é o trabalho que o pessoal da Normal tem desenvolvido produzindo headphones moldados ao recorte da orelha do usuário, com encaixe e isolamento sonoro perfeitos.

Assim como a solução atual já é de grande valia para a produção mocapes de produtos, como por exemplo, maquetes e estudos de arquitetura, que saem da realidade de projetos renderizados no computador para o trabalho impecável e de melhor custo de uma impressão 3D (e possivelmente com velocidade de produção até melhor nesse caso específico).

Maquete produzida em impressão 3D
É fato que a impressão 3D vem crescendo e se desenvolvendo numa velocidade espantosa. A partir de cerca de US$ 1.000,00, qualquer pessoa pode produzir praticamente tudo o que possa imaginar, o que inclusive vem criando discussões sérias sobre o tema, principalmente sobre dois aspectos, do da produção de peças com copyright e o da produção de armas, inclusive, armas que hoje são produzidas 100% em material plástico e capazes de disparar munição tradicional, o que seria um risco para a segurança de qualquer cidadão, e uma oportunidade na mão de terroristas e pessoas mal intencionadas, uma vez que se trata de um material de fácil desmonte e dificilmente identificadas.

Voltando ao tema do copyright, penso como empresas como a Lego, Melissa, Hasbro, KidRobot, entre outras poderão no futuro se defender da ameaça de produção caseira? No caso da Lego, sua maior virtude, a simplicidade de se construir praticamente tudo através de peças de plástico, poderá também ser uma de suas maiores fraquezas no futuro?

É sempre um risco um palpite como esse, mas em termos de comparação eu acredito que estamos nesse momento estamos vivendo algo parecido com o que foi a Internet para os consumidores em meados da década de 90, ainda que de contato possível na época para alguns poucos curiosos, restrito a grandes empresas e experts da área, e que vislumbravam, mas de fato não tinham a mínima ideia do que ainda viria pela frente ou de como de fato a Internet faria parte de nosso cotidiano de maneira tão sinérgica à maioria de nossas atividades.

Do mesmo modo, podemos dizer que estamos no início de algo revolucionário, e que com certeza irá ainda passar por sérias transformações, mas que veio para ficar e fazer parte do nosso cotidiano nos próximos anos, de maneira cada vez mais acessível.

Será que teremos algum player como a Amazon ou a Apple entrando nesse mercado?

Eu imagino a seguinte situação, e a partir disso, começo a pensar sobre como o varejo poderá ser afetado. Imagine você em sua sala de estar assistindo um programa de compras na televisão, ou talvez navegando em algum e-commerce, e ao gostar de um produto, com um simples toque (se isso ainda for necessário no futuro – talvez só a força do pensamento já seja suficiente), você compra o produto.

Ao invés de ele precisar ser produzido, embalado, despachado e entregue, ele somente seria produzido, renderizado, ou impresso em sua casa. É possível que talvez a briga seria quem teria a melhor relação de custo x benefício de equipamento, ou talvez a melhor qualidade de acabamento ou velocidade de produção. Quem talvez teria o melhor custo x benefício de matéria prima utilizada (algo que já se discute quando falamos de impressão de papel até hoje...)

Para que então serviria a loja física? Seria apenas uma questão de experiência de compra? Será que serviriam apenas como showroom de experiências e talvez de cadastro de seus consumidores, lendo e gravando todas suas características físicas?

O futuro e a revolução estão aí. Já impressos na história.

Um grande abraço e boas vendas

Caio Camargo
Editor
+Falando de Varejo