quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A cigarra e a formiga


Incrível como a quantidade de informações sobre lojas fechando ou em recuperação judicial vêm gradativamente aumentando. Na verdade, não tão incrível assim, sendo que vivemos um momento de crise na economia, mas os números certamente impressionam.

Depois de um 2015 onde números de mercado comentam entre 100 e 130 mil lojas fechadas, incluindo-se aí lojas de grandes players como Magazine Luiza, Casas Bahia, C&A, entre outros, o pós-carnaval onde na prática para muitos o ano começaria a engrenar, trouxe uma enxurrada de novas notícias pessimistas ao mercado, com recuperações judiciais, como nos casos da GEP, que controla as marcas como Luigi Bertolli e Gap, e a BMart, com mais de 28 lojas em diversos estados, bem como a extinção anunciada das marcas (e não das lojas) que fazem parte do grupo Máquina de Vendas, onde as notícias dizem que todas as marcas seriam unificadas como Ricardo Eletro.

Há tempos que digo que as empresas precisam não somente “podar” seus custos mas também reduzir suas perdas, seja no caso de furtos e produtos ou até mesmo de aproveitamento de vendas no chão de lojas, o que chamamos de taxa de conversão. Não dá mais para perder clientes.

Todo esse cenário me remeteu à fábula de “A cigarra e a formiga”, conto que praticamente todo mundo conhece, mas que a maior das lições não foi aprendida.

Numa leve releitura que faço nesse conto, em tempos de vacas gordas, diga-se aí, o verão no caso da fábula, a cigarra vivia a cantarolar e a curtir a vida, ao passo que a formiga era criticada por somente trabalhar. “Viver o dia” era o lema da Cigarra. “Pensar no futuro” era o lema da Formiga.
Quando chegou o inverno, a formiga provou-se mais inteligente e sofreu menos os efeitos do frio e da escassez de comida, passo que a cigarra....bem, você sabe a história. Pelo menos em algumas versões da história, podemos dizer que pelo menos a cigarra aprendeu a lição.

Mas e no caso do varejo?

O varejo aproveitou muito bem o “boom” de consumo criado nessa primeira década dos anos 2000, crescendo e vendendo bem, mas apoiando-se sobretudo em uma expansão constante que muitos diziam antes mesmo da crise chegar que era um modelo frágil. Em épocas de consumo crescente das classes emergentes da baixa renda, e de emprego pleno, os problemas poderiam ser hoje considerados como problemas “bons”, como a escassez de novos pontos, ou ainda a falta de gente disponível para o mercado. Bons tempos...

Com o início da recessão e a pior das consequências, como desemprego, inflação e juros cada vez mais altos, o modelo de crescimento baseado em expansão se mingou. Numa frase que escutei de Abílio Diniz, não era mais hora de olhar pela janela, mas hora de buscar olhando no espelho.

Quem se anteviu um pouco ou se preparou melhor, conseguiu pelo menos perder menos do que a maioria que nada fez, que apenas estava (ou ainda está) aguardando uma retomada do crescimento. Crescimento este que parece a cada dia mais distante. Do segundo semestre de 2016, já tem gente apostando somente em 2018.

Eu acredito, infelizmente que as notícias de grandes fechamentos ainda não pararam. Realmente fica difícil retomar o cenário de crise em empresas que há tempos não souberam equilibrar seus problemas de custos, de crédito, de inadimplência, e até mesmo de pessoas, na minha opinião, capital essencial. Se um grande capitão de navio é formado somente através das tormentas e grandes tempestades, esse nada pode fazer sem bons marujos dentro do barco.

Retomando a questão da fábula, avalie seu negócio. Você é cigarra ou formiga? E lembre-se: Quem sobreviver ao inverno, sairá fortalecido na primavera.

Um grande abraço e boas vendas

Caio Camargo
Editor
Falando de Varejo