sábado, 2 de abril de 2016

E se Dilma ficar?


Mesmo que você tente se abster ou ser isento do atual embate político, é cada vez mais difícil não se envolver com esse ou criar uma opinião, até por conta dos reflexos em nossa economia que esses embates já estão causando e ainda irão causar.

Mesmo tendo como foco o varejo e seus próximos passos, pensei em colocar um pouco do que penso sobre a atual situação que vivemos e seu reflexo para os próximos tempos, ainda difícil de mensurar se estamos falando de meses ou até mesmo anos.

Independente de qual lado você está (já que o embate é uma questão de escolher um dos lados, pró ou contra), os fatos e notícias apontam a conclusão do cenário com o impeachment cada vez mais próxima, mas novos fatos ou movimentos, dada a instabilidade do momento, podem até mesmo virar esse quadro.

É fato que há um otimismo numa possível derrota do governo, principalmente por parte do empresariado. No caso do varejo, onde quase 100 mil lojas foram fechadas por conta da crise, além de diversas grandes bandeiras do mercado estarem entrando com pedido de recuperação judicial, já há rumores sobre movimentações de alguns grandes varejistas para criar uma onda de otimismo pós-impeachment com investimento pesado em abertura de novas unidades e criação de mais empregos, tudo para criar uma espiral positiva ou ao menos, estacionar a crise.

Como uma frase que escutei em algum jornal num dia desses, no meio da crise, em algum momento “as melancias iriam se acomodar no caminhão”, e as coisas começariam a encontram um caminho de normalidade, mesmo no meio do caos. E até estavam, e o mercado estava tentando dar algum sinal de vida, alguma resposta frente ao “novo normal” que vivemos hoje, mas a avalanche de novas denúncias fez com que infelizmente, utilizando a metáfora acima, balançasse demais o caminhão e suas melancias, congelando investimentos, aumentando ainda mais a onda de desemprego e desânimo por conta de empresários, varejistas e consumidores.

Na hipótese de o impeachment prevalecer, é fato que teremos um ambiente de renovação, e isso poderá dar a todos os setores da cadeia produtiva um novo fôlego. Novos rumos criam novas esperanças, e poderemos assistir à uma empolgante retomada do mercado. Porém, tal qual num momento do pré-óbito, onde pacientes têm uma súbita melhora pouco antes de falecer, a situação estrutural do país, com uma economia ainda fragilizada por conta das aventuras econômicas do atual governo, pode dificultar uma real retomada da economia e em pouco tempo, termos todo o cenário de desaquecimento novamente. É esperado de um novo governo que se corrija as falhas do modelo atual.
Continuando, haverá um momento de euforia, mas que exigirá de empresários e consumidores cautela. É esperado também que empresários e demais setores tenham aprendido que mesmo que haja um pequeno boom econômico, tal qual um surto, é preciso crescer com eficiência e produtividade em suas operações. Nessa crise, só estão sobrevivendo as empresas que souberam criar alicerces fortes junto aos seus processos e atividades.

Mas frente a todos os esforços do governo em tentar barrar uma derrota que vem em sua direção com a força de um tsunami, usando tudo o que tem, loteando tudo o que pode, se (e eu espero que fique somente como hipótese), o governo conseguir sobreviver a tudo isso, em minha opinião, temo que teremos um cenário econômico ainda pior do que o que assistimos hoje.

Se de um lado, com a vitória do impeachment haverá um momento de euforia, com a manutenção do governo no poder haverá um cenário de pós-festa triste e desolador. O dia seguinte de uma vitória governista, se não vier atrelado à profundas mudanças nos rumos e atitudes do atual governo deixará o mesmo cenário de incertezas e descrédito nas instituições que temos hoje, possivelmente até piorado, com uma total descrença nos setores legislativos e judiciários, protagonistas da situação que temos hoje.

Se movimentos sociais que hoje apoiam o governo poderão comemorar, há de se lembrar que não são setores produtivos, mas setores dependentes da produtividade e do investimento principalmente da indústria e comércio. São como convidados de uma festa, que enchem a casa, comemoram gritam junto, mas que no fim da festa, todos vão embora, por vezes levando seu pratinho de bolo, não ficando ninguém para arrumar a casa. Caberá apenas ao governo arrumar a bagunça.

Com um governo ainda mais sucateado pelo esvaziamento de suas forças políticas e o loteamento dado a partidos nanicos, resta saber qual será a reação, se houver, em meio ao cenário de desânimo que se dará.

A história será escrita, não importa o rumo que se dará, mas cabe agora também a todos os brasileiros, empresários e trabalhadores, entender em meio ao caos, como tirar forças e desenhar caminhos para a reconstrução. Não importa o caminho, todos teremos que encontrar juntos uma alternativa para a retomada do crescimento.

Um grande abraço e boa sorte a todos nós

Caio Camargo
Editor
Falando de Varejo