Esta pesquisa já apontava, na época, que a privacidade, representada por fatores como segurança e serenidade, passava a prevalecer sobre a conveniência como preocupação ou experiência desejada por consumidores em todo o mundo. Este resultado, de certa maneira, surpreende os especialistas, já que, durante a última década, a tendência sempre foi acumular informações sobre o cliente para surpreende-lo com ofertas e serviços personalizados. Com isso, imaginaram eles, fidelizariam e encantariam seus clientes.
Na esteira deste pensamento, tecnologias emergentes vieram para facilitar e tornar viável não só a coleta e armazenamento destas informações, mas, principalmente, seu uso efetivo para atrair e reter clientes. Enquanto isso, as fontes de informação passaram daquelas disponíveis somente nas bases de dados das próprias empresas para a infinidade e abrangência das informações que transitam nas redes sociais e blogs. Big data, machine learning e, finalmente, a inteligência artificial passam a ser a ordem do dia para utilizar ao máximo toda essa informação e melhorar a experiência do cliente.
Neste fim de década, as empresas enfrentam agora um desafio: o cliente passa a exigir a privacidade no tratamento de suas informações. Não aceitam mais a troca delas por conveniência. Querem a garantia de que será cuidada e protegida. Mais do que isso, querem saber o que fazem com ela. O direito à privacidade e à segurança de suas informações é um tema quente. Não tenham dúvidas disso.
Uma frase que li outro dia na internet, “se você dá sua confiança a alguém que não a merece, estará concedendo-lhe, na verdade, o poder de destruí-lo” talvez mostre porque a questão da privacidade se tornou tão importante. Se você fornece suas informações a empresas ou instituições que não são capazes de protegê-las em troca de conveniência, benefícios de uma oferta boa, ou um produto interessante, estará correndo o risco de ter sua vida virada de ponta a cabeça. Seja em um mau uso, vazamento de dados ou outro incidente causado pelo desleixo ou falta de preocupação com o assunto. É isso que a pesquisa do Gartner parece ter concluído.
Assim, minha recomendação às empresas é que entendam a lei, não como um estorvo ou motivo para tirar dinheiro, mas como uma oportunidade de criar condições para proteger as informações de seus clientes, ganhar sua confiança e usufruir de todo o poder que ela trará em termos dos benefícios do seu uso consistente.
Ao confiar que seu potencial fornecedor protege suas informações, potenciais consumidores e clientes entregarão um poder a sua empresa para lhe vender cada vez mais. E este poder, acreditem, será um diferencial importante daqui para a frente. Entender o uso da LGPD como uma ferramenta para melhorar a experiência do seu cliente nestes aspectos pode ser uma boa ideia. Vale uma reflexão.
Artigo escrito por Enio Klein, CEO da Doxa Advisers; Professor de Pós-Graduação na Business School SP; Especialista em Transformação Digital