terça-feira, 25 de agosto de 2009

"Fiado" e "Caderneta" ainda possuem uso equivalente ao cartão de débito, aponta LatinPanel.

Antigo hábito garante boa parte das vendas do comércio, diz pesquisa

Na era do dinheiro de plástico, o velho fiado ou a compra na caderneta ainda resiste e tem participação expressiva no dia a dia dos brasileiros. Pesquisa da LatinPanel com 8.200 famílias revela que 21,6% delas pagaram alguma conta usando o fiado ou a caderneta durante este ano. O uso do fiado pelas famílias é praticamente o mesmo do cartão de débito, o meio mais sofisticado de pagamento, e que chegou a 22,8% no mesmo período.

A pesquisa, que acompanha semanalmente os hábitos de compra de 82% dos domicílios no País, mostra também que o uso do fiado não se restringe à baixa renda. O interior do Estado de São Paulo, o segundo mercado consumidor do Brasil, é a região do País onde o fiado é mais frequente.De janeiro a abril, 28,9% das famílias que moram no interior de São Paulo usaram esse meio de pagamento. Em seguida estão regiões com menor poder aquisitivo, a Leste, que inclui Espírito Santo, Minas Gerais e o interior do Rio de Janeiro, com 28,2% das famílias usando fiado, e a Norte e Nordeste, com 25,9%.

"O uso do fiado não está atrelado apenas às famílias e às regiões de menor renda, mas reflete a conveniência de comprar hoje e pagar depois. É uma questão de relacionamento entre as pessoas que é mais forte no interior", afirma a diretora de Varejo da LatinPanel, Fátima Merlin.

Ela reforça essa análise com outro dado apontado pela pesquisa: o fiado está presente em todas as classes sociais. Mas o maior uso dessa forma de pagamento foi registrado pela enquete nas famílias das classes D/E (26,2%); seguidas pelas da classe C (21,9%) e pelas famílias mais abastadas, dos estratos A/B (12,6%).

O microempresário José Luiz Cancelieri, dono da cafeteria Doce Café, localizada em Pinheiros, bairro de classe média de São Paulo, conta que entre 10% e 12% do que vende é pago pelo cliente 15 dias depois. "Às vezes, a venda na base do fiado representa um pouco mais. Mas, no máximo, chega a 15%.

"A amizade entre o microempresário e seus clientes é o principal motivo apontado por Cancelieri para vender lanches na caderneta. A maioria das empresas da região onde fica a sua casa de lanches tem funcionários terceirizados, observa. "Eles ganham pouco. Quando chega o dia 20, o tíquete refeição acaba. Faço isso para ajudá-los.

"Apesar da boa vontade de Cancelieri, ele ressalta que está atento à inadimplência dos cerca de 50 clientes que compram na caderneta. "Não facilito o pagamento para pessoa que não conheço ou não sei a empresa onde trabalha." Se o freguês pede vários lanches, ele logo desconfia. "Não precisa ser um valor altíssimo, mas fico em cima.

"Açaí na tigela, por exemplo, que é uma sobremesa cara, ele não vende fiado, muito menos cigarro, frisa. Apesar desses cuidados, o calote do fiado oscila entre 2% e 3%. Desde o fim do ano passado, com a piora da situação da economia e muitas dispensas, a inadimplência do fiado aumentou. "Quando são demitidos, alguns não lembram de pagar a conta no seu Zé", brinca.

Na análise de Fátima, da LatinPanel, a crise de crédito pouco afeta o uso do fiado. Ao contrário. Ela ressalta que, com a dificuldade das famílias de obter crédito nos bancos e financeiras, a tendência do fiado, que é um financiamento informal, é de aumentar.

Apesar da participação significativa do fiado entre os meios de pagamento usados pelos brasileiros, ela ressalta que essa fatia vem diminuindo. Em 2007, por exemplo, 61,4% das famílias informaram que usaram o fiado em algum tipo de pagamento. No ano seguinte, essa participação caiu para 33,9% e no primeiro quadrimestre deste ano está em 21,6%. Fátima explica que a queda de participação do fiado resulta do avanço dos bancos no mercado informal, concedendo cartões para as famílias de baixa renda. Também o aumento do emprego formal, que abre as portas das famílias mais pobres para obter crédito nos bancos é outro fator apontado pela coordenadora da pesquisa para explicar a redução do fiado.

Fonte: Estadão