segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Varejo segmenta operações para atingir todos os públicos

A onda de segmentação no comércio nacional avança e as redes varejistas aumentam a criação de marcas que antes atendiam apenas ao público A e B, voltando seus olhos para a nova classe emergente no País. Esse é o caso do grupo CRM, holding detentora das marcas Kopenhagen, DanTop e Brasil Cacau, esta última criada há três anos para atender a nova demanda da classe C e D.

Outra que não descarta essa ideia é a rede de docerias Ofner, que deve adotar uma nova marca segmentada nos próximos anos. Tanto que, no momento, a marca afirma aplicar um novo conceito para fidelizar o cliente que hoje pertence as classes C e D e deve crescer dentro da Ofner. "Hoje, os emergentes já começam a entrar em nossas lojas, principalmente nos pontos localizados em shoppings. Hoje, eles entram pela primeira vez e tomam um café, comem um salgado ou chocolate. Conforme a renda vai aumentando, vão experimentando outras coisas, até chegar a levar uma caixa de bombons ou um panetone [custo médio de R$ 30 o quilo]", explicou diretor comercial da Ofner, Laury Roman.

Atualmente a doceria possui uma média de compras para cada perfil de consumidor e afirma que as classes C e D, por exemplo, têm um tíquete médio de R$ 7, enquanto as classes A e B têm um gasto médio de R$ 17. A Ofner pretende fechar o ano com 19 lojas no estado de São Paulo e tem o objetivo de crescer cerca de 6% em 2010. Ao ser questionada sobre suas receitas financeiras, a empresa informou que não divulga o faturamento da companhia por questões estratégicas, mas está aquecida.

Já a Brasil Cacau, criada para atender o mercado emergente, almeja chegar em 2012 com 500 lojas. "Até dezembro de 2010 estaremos com 180 lojas, mas nosso plano é ter 500 lojas até 2012", enfatizou a vice-presidente do Grupo CRM Renata Vicchi.

Outra novidade da marca similar da Kopenhagen é que será criada uma nova linha para ampliar o leque de opções para o público-alvo. "O sucesso das trufas e tabletes são tão expressivos que traremos nova linha de produção que exigiu aporte de R$ 16 milhões", disse a porta-voz. Atualmente a marca possui um faturamento médio anual estimado em R$ 15 milhões, contra os R$ 186 milhões da Kopenhagen. "Conforme for ocorrendo a maturação das lojas e abertura de novos pontos, a tendência é de crescimento na participação do faturamento".

Segundo professor do Programa de Administração do Varejo (Provar), José Lupoli Júnior, isso se tornou uma tendência no mercado que deve se tomar cuidado no momento de criar outra linha ou atender públicos diversificados. "Aonde a estratégia deu certo foi com a Audi e Volkswagen, que pertencem ao mesmo grupo, e são umas das líderes no segmento que atuam. A primeira marca fica com o público A e B, e a segunda com as classes mais populares. As duas não se encontram e não competem no mercado entre si."

Lupoli Júnior dá exemplo de quem não conseguiu obter o mesmo sucesso com a possibilidade de ampliar o leque de pessoas que atende. "A Casas Bahia em 2007 tentou atender a classe média, onde a classe popular ficou bem ofendida. A estratégia morreu em seguida", enfatizou. Lupoli ainda deixa uma dica: "A construção de uma nova marca é a melhor saída para quem deseja atender a classe popular e não comprometer o público que já atua", disse.

Vestuário

Não é apenas o setor alimentício que percebeu a segmentação de bandeiras como uma estratégia forte de crescimento no mercado varejista. Além dos supermercados, em que o Grupo Pão de Açúcar pretende reforçar a adoção de conceitos diferentes para públicos distintos como Ponto Frio, para consumidores A e B, e Extra Hipermercados para o público C e D, além da Casas Bahia, que também tende a permanecer com vendas aos públicos C, D e E, o segmento de vestuário segue essa tendência.

Tanto que quem também está se reiventando de olho no maior consumo e renda dos emergentes é a marca de roupas Luigi Bertolli. A empresa afirmou que antes atuava apenas com o público A e B, mas hoje viu uma dinâmica diferente nos gastos da população, e já alcança a classe C.

Segundo fonte da empresa, para atender ao mercado de luxo a estratégia foi, inclusive, criar a marca M, há pouco mais de três meses, com foco exclusivo a clientes A+, e voltada ao público jovem. No grupo da Luigi, inclusive, outra ação foi a adoção da marca Core, que atende A e B em geral.

Fora o setor de roupas, outro mercado que explora públicos segmentados é o de administração de centros de compras. As grandes empresas do ramo têm investido mais nesse perfil de negócio. Tanto que a AD Shopping lançou recentemente o Shopping Praça da Moça, em Diadema, próxima da capital paulista, de olho também no público que melhora cada vez mais sua renda.

Fonte: DCI