segunda-feira, 10 de junho de 2013

Fendi inaugura sua primeira loja no Brasil

Fachada da nova loja
No frenesi de inaugurações de lojas de grife de alto luxo no Brasil, pode causar estranhamento que a Fendi, uma das maiores estrelas do seleto grupo de marcas americanas e europeias, tenha decidido só agora abrir sua primeira loja em São Paulo, no Shopping Cidade Jardim.

Talvez tenha sido justamente a cautela que ajudou a grife a chegar aos 88 anos como a marca que melhor sabe conjugar globalização com artesanato.




Fundada em 1925, em Roma, pelo casal Edoardo e Adele Fendi, como um negócio de peles e couros, a Fendi se destacou imediatamente como um rincão de excelência na escolha de matérias-primas. Absolutamente tudo era – e é – feito à mão, desobedecendo padrões estéticos do que se costumava considerar moda. Nos anos 1960, Edoardo e Adele começaram a passar a gestão às cinco filhas, Paola, Anna, Franca, Carla e Alda, fato raro num meio até então dominado por costureiros homens. Em 1965, o quinteto contratou em Paris um então novo talento da moda, o estilista alemão Karl Lagerfeld, para tirar a poei­ra de sua linha de roupas. Ele criou a logomarca dos dois F, transformou os pesados casacos de peles em peças mais modernas, para ser usadas como jaquetas, e lançou a primeira linha de prêt-à-porter de visons da história.

Assim como Lagerfeld, há 48 anos à frente das roupas da marca, é possível encontrar ainda hoje, nos ateliês romanos da Fendi, profissionais com o mesmo tempo de casa. Os fornecedores também continuam imutáveis – artesãos do eixo Roma-Florença –, sem nenhuma concessão da linha de produção a países asiáticos. A voracidade da expansão global e a sede dos mercados emergentes – são 190 lojas ao redor do mundo – parecem não ter afetado o ritmo da Fendi, ainda que a marca tenha sido comprada, na virada dos anos 2000, pelo grupo LVMH, maior holding de luxo do mundo. “Ainda conservamos esse ambiente familiar”, disse a ÉPOCA Silvia Fendi, filha de Anna e único membro da família ainda a trabalhar na empresa. “Depois da venda, a empresa se tornou maior, mais global e mais bem organizada, mas, no dia a dia, não sinto tanta diferença. Os funcionários se conhecem desde sempre, e os princípios para fazer o melhor produto continuam os mesmos de 1925.”

Ao deparar com Silvia, uma mulher baixa, discreta, elegantemente vestida num uniforme preto, o interlocutor não imagina que está diante de uma das maiores criadoras do sempre espalhafatoso universo da moda. Desde 1994, ela assina os acessórios da Fendi. Foi a responsável por detonar, em 1997, a febre mundial das it-bags, com a criação da bolsa baguette, uma bisnaga de couro que ganhou versões em seda, jeans, cristais e até diamantes. “Fiz a baguette porque senti necessidade de criar uma bolsa que fosse uma extensão da roupa e do corpo da mulher”, diz Silvia.

O estrondoso sucesso alçou a bolsa a um patamar até então jamais visto em escala global. Ela passou a ser a primeira aquisição de uma mulher no universo do luxo. Sua criadora diz que a criatura se voltou contra ela. “Até mesmo estilistas que nunca fizeram bolsas passaram a fazer. Um dia, deparei com uma cópia tão vulgar que me senti devorada por minha própria criação. Então passei a perseguir outro modelo mais sóbrio, discreto, funcional, que tivesse mesmo cara de bolsa. Ele só tomou forma dez anos depois, com a Peekaboo.” A nova bolsa acabou virando hit também. “É claro que é prazeroso ver seu trabalho reconhecido. Sempre que um designer alcança um sucesso absoluto, porém, ele tem de tomar coragem para ir rumo a uma direção completamente oposta. Um processo feito à mão e na contramão.”

Fonte: Época