quarta-feira, 18 de agosto de 2010

“70% das empresas familiares não chega à segunda geração”, afirma especialista

Fecomercio, GVlaw e FBN reúnem especialistas para debater as dificuldades enfrentadas pelas empresas familiares no Brasil e como garantir sua continuidade
Pode parecer estranho, mas as empresas familiares devem ser independentes das famílias. A opinião é de René Werner, diretor da Werner & Associados Desenvolvimento Societário, que, na manhã de hoje (17/8), se encontrou com outros especialistas no assunto para debater qual o futuro dessas organizações no Brasil, quais os ajustes que essas empresas precisam realizar em suas estruturas se desejam continuar existindo e como evitar que questões sucessórias acabem com o patrimônio já constituído. “Para serem bem sucedidas, as empresas familiares precisam debater a capacidade das pessoas antes de contratá-las”, aponta Werner. “Não contratar alguém baseado no grau de parentesco.”

Durante o encontro, organizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), ficou claro que a maior preocupação das empresas familiares é com a perenidade, ou seja, a continuidade da empresa, e, consequentemente, com a questão sucessória. Segundo o sócio-diretor da Ochman, Real e Amadeo Advogados Associados, Renato Ochman, os processos de sucessão costumam ser uma das maiores barreiras para a continuidade da empresa porque, enquanto os empasses legais não se resolvem, a empresa fica sem liderança e assiste a depreciação de seus bens. “Para evitar isto, o fundador deveria criar uma regra sucessória logo no começo da empresa”, pondera Ochman.

Já Telmo Schoeler, presidente da Strategos Strategy & Management, argumenta que a continuidade das empresas familiares está ligada a conseguir manter um equilíbrio entre capital, gestão e valores. Como em um tripé que não se sustenta sem uma das pernas. Contudo, Schoeler adverte que o ponto de balanço deste tripé precisa estar nos valores da empresa. “Em 50 anos, a estrutura de capital e a forma de gerir a empresa terão mudado completamente. Os princípios e valores podem ser os mesmos”, justifica.

Passar princípios e formar uma base sólida para a empresa, no entanto, não é tarefa fácil. Schoeler afirma que, “70% das empresas familiares não chega à segunda geração. Somente 20% chegam à terceira”. Para o coordenador do Grupo de Estudos de Empresas Familiares (GEEF) do GVlaw, Eduardo Capobianco, o motivo para estes números é o que ele chama de “Marca de Cain”. “São brigas entre irmãos e outras intrigas familiares que atrapalham o desenvolvimento da empresa”, explica. “O segredo para o sucesso é ficar atento aos sinais e restaurar a harmonia logo no começo”, conclui Capobianco.

Outro problema comum nas empresas familiares decorre da incapacidade que muitos empresários têm em separar o que é patrimônio da companhia e o que é pessoal. “Infelizmente, muitos empreendedores só aprendem a separar a pessoa física da jurídica quando acontece o pior e o banco toma os bens da empresa, ou seja, a casa e o carro da família”, lamenta Peter Edward Wilson, diretor-presidente da Managrow Consultoria.

Segundo Wilson, nessas horas é importante pensar em ciclos e encarar o fracasso como uma grande possibilidade de aprendizado. Para o gerente executivo do maior fórum mundial de empresas familiares, a Family Business Network (FBN), Marcos Siqueira, é interessante que as diversas companhias deste tipo possam aprender e se desenvolver aproveitando umas das experiências das outras. “Cada empreendedor tem uma experiência única, que pode ser muito enriquecedora para outras empresas”, comenta Siqueira. “O FBN existe, justamente, para possibilitar que essas experiências sejam trocadas, o que pode auxiliar na resolução de problemas característicos dessas instituições.”

Fonte: Divulgação