terça-feira, 13 de abril de 2010

Pão de Açúcar e Casas Bahia podem rever fusão

A compra da Casas Bahia pelo Pão de Açúcar, que deu origem ao maior grupo de varejo de eletroeletrônicos do país, corre risco de um revés. Quatro meses depois de a operação ser anunciada, os empresários Michael Klein e Abílio Diniz voltaram à mesa de negociação para rediscutir os termos do contrato. A iniciativa partiu da família Klein, que não descarta a possibilidade de recorrer à Justiça comum para garantir o que ela chamou de um equilíbrio na nova companhia.

Nesta terça-feira, o Pão de Açúcar divulgou um fato relevante confirmando que está renegociando o acordo. Logo depois da abertura da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as ações do grupo de Abílio Diniz registravam a maior baixa entre os ativos do principal índice do mercado brasileiro.

Pelo negócio fechado em dezembro passado, as operações da Casas Bahia foram integradas às da Globex, controladora do Ponto Frio. Diniz ficou com 51%, contra 49% de Klein. A reabertura das negociações foi confirmada por executivos de ambas as empresas. Oficialmente, porém, nem Pão de Açúcar (que é uma companhia aberta, com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo) nem Casas Bahia falaram sobre o assunto.

Para Casas Bahia, seus ativos teriam sido subavaliados

Além da posição minoritária na sociedade, o controlador da Casas Bahia afirma que os ativos da suas empresas teriam sido subavaliados e reclama ainda das condições determinadas para a venda das ações que passou a deter na "nova" Globex (no primeiro ano, por exemplo, não poderá se desfazer de nenhum papel).

Na época, a operação chamou a atenção do mercado por seu porte: juntas, passaram a ser donas de um faturamento anual de R$ 40 bilhões. Mas também despertou interesse a maneira como a negociação foi conduzida, com a dispensa da chamada "due dilligence" (a auditoria prévia realizada em uma companhia). Foi ideia dos Diniz, para permitir que o contrato fosse assinado em apenas 90 dias depois do início das conversas. Contribuiu para isso o fato de as duas empresas serem auditadas pela mesma consultoria - a Ernst & Young.

Da sua parte, Klein abriu mão de contratar escritório próprio de advocacia para assessorá-lo (a assessoria jurídica partiu, para as duas companhias, da Tozzini e Freire). A informação de consultores que tiveram acesso às primeiras conversas era que a situação financeira da Casas Bahia dependia do equacionamento de uma dívida superior a R$ 2 bilhões.

O resultado dessa corrida contra o tempo foi um contrato com menos de 30 páginas, que além das condições básicas do negócio estabelece também garantias contra eventuais problemas. Para efeitos legais, a antiga Casas Bahia continua aberta (com CNPJ ativo), e continuará assim por pelo menos dez anos. Foi a forma de o Pão de Açúcar se defender do risco de processos futuros.

Nessa nova fase de negociação, Klein foi buscar o aconselhamento da Signatura Lazard, uma butique de investimentos, e do escritório de advocacia Pinheiro Neto. O Pão de Açúcar é assessorado pela Estáter (que já trabalhou para Diniz em outras transações) e pelo escritório Barbosa, Mussnich e Aragão.

Filosofias diferentes atrapalham o dia a dia

Segundo um executivo que está participando do processo, a união entre as duas empresas poderia estar mais adiantada e caminhando de forma melhor. Para ele, um dos principais entraves é a filosofia de cada uma das empresas.

- As empresas pensam de forma diferente e trabalham de maneiras distintas. É assim que está sendo - afirmou o executivo.

Pelo acordo divulgado em 4 de dezembro, a atual estrutura das Casas Bahia foi dividida em duas: o de vendas pela internet e a Nova Casas Bahia (NCB), que irá reunir os ativos operacionais da empresa e onde Diniz tem 51%. Entre os ativos que ficaram de fora da nova empresa estão a propriedade de cerca de 250 imóveis onde funcionam as lojas das Casas Bahia, nas mãos da família Klein, e também do novo centro de distribuição da rede, pelos quais receberá R$ 130 milhões em aluguéis por ano da empresa em que será sócia do Pão de Açúcar. Os Klein ficarão ainda com 75% da fábrica de móveis Bartira, que abastece sua rede, e com recebíveis das Casas Bahia no valor de R$ 1 bilhão, além de outros ativos não operacionais.

Com a união entre as duas empresas anunciada em dezembro, os concorrentes no Brasil começaram a se movimentar. Três meses depois, em março, veio a primeira reação: a mineira Ricardo Eletro e a Insinuante, com sede em Salvador, anunciaram a união de suas operações, resultando em um faturamento de R$ 5 bilhões.


Fonte: O Globo